Há dois planos para a Grécia que podem estar em rota de colisão

Governo grego apresentou proposta e em troca recebeu uma outra oferta dos credores, depois de FMI e União Europeia chegarem a um acordo nas concessões que querem pedir a Atenas

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Tsipras e Merkel num encontro em Março TOBIAS SCHWARZ/AFP

Governo grego e troika apresentaram, cada um, uma proposta para desbloquear as negociações na Grécia, depois da demora nas negociações a nível técnico ter levado a um maior envolvimento dos líderes políticos.

Com pouco a levar a crer que as duas propostas sejam muito semelhantes, rumores abundavam – teria o primeiro-ministro grego cedido nos cortas nas pensões? Incluiria a proposta dos credores alguma espécie de alívio da dívida? Certo é que a proposta iria ser apresentada ao primeiro-ministro grego em breve e que se esperava dele uma resposta igualmente rápida, dizem fontes ligadas ao processo. 

O chefe do Executivo grego, Alexis Tsipras, disse que a Grécia apresentou aos credores um plano completo e “realista”. Pediu aos líderes europeus para “aceitarem o plano para evitar dividir a Europa”.

“Não estamos à espera que eles submetam uma proposta. A Grécia está a apresentar o seu plano”, continuou Tsipras, em declarações aos jornalistas. “A decisão é agora da liderança política da Europa”.

A proposta grega foi entregue, especificou, antes do encontro de segunda-feira à noite em Berlim entre a chanceler alemã, Angela Merkel, o Presidente francês, François Hollande, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, a directora-geral do FMI, Christine Lagarde, e o governador Banco Central Europeu, Mario Draghi.

Tsipras disse que o plano contém concessões que serão difíceis, mas fontes desmentiram rumores de que possam dizer respeito às pensões ou à reforma do mercado laboral tornando mais fáceis despedimentos, duas medidas exigidas pela troika.

FMI e UE de acordo 
Do outro lado, segundo o Wall Street Journal, os credores chegaram a acordo sobre o que exigir à Grécia após a reunião de segunda-feira à noite, e farão uma oferta a ser apresentada já esta quarta-feira à Grécia para que esta a aceite ou recuse.

Os credores — União Europeia e Fundo Monetário Internacional — exigem a aplicação de um pacote de reformas e de cortes orçamentais antes de desbloquearem uma fatia do programa de financiamento, de 7200 milhões de euros. Ambos vinham a apresentar posições bastante diferentes durante as negociações – o FMI a defender que os europeus aceitem reduzir a dívida, os europeus mais flexíveis quanto a mudanças nas pensões. 

Depois de segunda-feira, os credores chegaram a um consenso sobre o que exigir, o que marca uma viragem na situação até agora.  

Talvez por isso tenha surgido um clima de optimismo, pelo menos nos mercados, com as expectativas mais positivas a basearem-se no princípio de quem nem os decisores da União Europeia querem ser responder pelo fim do euro, nem a Grécia quer voltar à dracma.

Ainda houve um momento quando o líder do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, disse que era tecnicamente impossível um acordo antes da data de sexta-feira – um comentário que acabou por ser entendido como a constatação de que um acordo completo teria de ser aprovado pelo Eurogrupo e que isso não iria acontecer antes de sexta-feira, o que não exclui um acordo político.

Na sexta-feira, a Grécia tem de fazer mais um pagamento ao FMI, de 300 milhões de euros, o primeiro de quatro deste mês. Responsáveis gregos já disseram que cumprirão este compromisso, mas agora acrescentam que o farão apenas no caso de haver entretanto um acordo com os credores.

"Ideia não é meio termo"
A decisão dos credores apresentarem algo que é visto como um ultimato a Atenas não foi fácil e muitos responsáveis europeus mostraram-se relutantes com este caminho, diz o Wall Street Journal. Outros responsáveis argumentam que Tsipras tem pouco espaço para negociar, e que assim poderá apresentar ao público um plano claro que lhe é oferecido e decidir aceitá-lo ou rejeitá-lo – ou deixar a decisão para os gregos em eleições. Uma declaração de Dijsselbloem parecia confirmar a tónica do “take it or leave it”: “Não é verdade que tenhamos de encontrar num meio-termo. Essa não é a nossa intenção”, declarou.

Mesmo antes destas notícias, de Atenas vinham palavras contra ultimatos e mais concessões.

O Governo grego não pode ceder mais e os credores internacionais devem assumir a responsabilidade pelo seu papel no processo, disse o ministro grego do Trabalho, Panos Skourletis.

"Não há espaço para mais compromissos. Estamos à espera que o outro lado assuma as suas responsabilidades", disse Skourletis, acrescentando que é agora preciso uma "solução política" para esta crise.
Nikos Filis, porta-voz do primeiro-ministro, disse que o Governo não assinará qualquer acordo que seja incompatível com o seu programa anti-austeridade. "Se estivermos a falar de um ultimato que não faz parte do nosso mandato popular, é óbvio que não o poderemos assinar", disse Filis à Antena TV.

Nos últimos dias, houve uma clara escalada retórica de Tsipras – num artigo de opinião publicado no diário francês Le Monde, Tsipras falou de propostas “absurdas” dos credores e voltou a dizer que já fez várias concessões (incluindo as privatizações) e que a falta de acordo se deve à teimosia das instituições (a troika). A razão desta escalada continua, como sempre, a ser interpretada como uma coisa e o seu contrário: se o Financial Times considerou que o primeiro-ministro está a avisar que não cederá, o Guardian põe a hipótese de que Tsipras esteja a mostrar aos gregos que fez todos os possíveis para não ceder, para depois os levar a aceitar melhor as concessões.

Tsipras sabe, no entanto, que dificilmente conseguirá o apoio de todo o Governo a um compromisso com cedências suficientes para os credores. Em Atenas, recomeçam os rumores de que haverá eleições antecipadas: o modo de perguntar aos gregos se aceitam ou recusam um determinado acordo.

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