Rui Moreira retira confiança política a autarca em plena polémica sobre a movida

Presidente da Câmara do Porto não quis comentar decisão, nem sequer as críticas do colega do movimento independente.

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António Fonseca, autarca do centro histórico, foi eleito nas listas de Rui Moreira Paulo Ricca

O comunicado do movimento Rui Moreira: Porto, O Nosso Partido, anunciando a retirada de confiança política ao presidente da União de Freguesias de Cedofeita, Santo Ildefonso, Sé, Miragaia, São Nicolau e Vitória, chegou às redacções minutos antes do início de mais uma reunião pública do executivo.

O presidente da câmara, Rui Moreira, não quis comentar a decisão, justificada com um afastamento, por parte de António Fonseca, dos princípios de “lealdade e solidariedade” do movimento independente. Já o presidente da junta diz ter sido apanhado de surpresa e diz que faltou “coragem” a Moreira, na forma como lidou com o caso, que surge após trocas de acusações entre Fonseca e o vereador da Fiscalização, Manuel Sampaio Pimentel, eleito pelo mesmo movimento.

A decisão dos independentes foi comunicada na manhã desta terça-feira, depois da polémica em torno do lançamento de policiamento pago em algumas ruas da movida portuense. Uma medida implementada pela junta, mas sugerida e há muito defendida pela Associação de Bares da Zona Histórica do Porto, a que António Fonseca preside em simultâneo com a união de freguesias.

A atitude do autarca foi criticada pelo PSD no executivo e, primeiro, a título pessoal, pelo vereador Sampaio Pimentel. Na resposta, Fonseca disse que se havia algum problema grave por resolver na movida era, precisamente, o da fiscalização, e convocou, na passada sexta-feira, uma reunião com os moradores da zona para ouvir as suas queixas.

Agora, o movimento de Rui Moreira acusa o presidente da junta de não cumprir com "a intransigente defesa dos superiores interesses dos cidadãos, acima de quaisquer interesses corporativos ou sectoriais" e de, ao longo de todo o mandato, "assumir posições políticas e tomar decisões executivas que o afastam progressivamente" dos princípios de "lealdade e solidariedade, o que afronta os valores enunciados pelo movimento".

Um comunicado que Fonseca diz não compreender. “Fiquei triste, começo a ter dificuldade em interpretar lealdades”, disse ao PÚBLICO algumas horas depois de ser conhecida a retirada da confiança política e depois de uma reacção inicial, em que reiterara a sua independência partidária, enquanto deplorava que “outros não sejam, afinal, independentes”.

António Fonseca disse que faltou "coragem" a Rui Moreira, na forma como resolveu esta questão. “O presidente da câmara deveria ter-me chamado e feito uma avaliação da situação. Nem que fosse para me dizer, cara a cara, que me retirava a confiança”, afirmou.

“Eu devo ter-me metido com alguém importante”, ironizou o autarca do centro histórico, que se queixa da existência de uma “lei da rolha na autarquia”. “Percebo que não estão preocupados com o meu trabalho em defesa dos fregueses. Há quinze dias que tenho uma audiência pedida, com caracter de urgência, ao chefe de gabinete do sr. presidente, para esclarecer diversas situações, e até agora não tive resposta”, acrescentou, prometendo para os próximos dias uma reacção mais contextualizada, com dados e informação política que, garante, ajudarão a perceber melhor a polémica em que está envolvido.

A decisão de retirada de confiança política a António Fonseca foi saudada, na reunião pública do executivo, pelo vereador do PSD Ricardo Valente, que fizera as críticas mais duras ao facto de o autarca ter avançado com uma medida – o policiamento pago – que envolvia directamente a ABZHP, a que também preside. Já Carla Miranda, do PS, disse ter ficado “espantada” quando se reuniu com os moradores da zona de maior animação nocturna, na altura da discussão pública do novo regulamento municipal para aquela área e percebeu que António Fonseca não preparara qualquer sessão de esclarecimento. “Pareceu-me infeliz não o ter feito”, disse.

Sampaio Pimentel, por seu lado, fez um apanhado das acções de fiscalização desenvolvidas no último ano e, irónico, disse: “Se o presidente da união de freguesias e o da associação de bares conseguissem encontrar uma data na agenda para se reunirem e construírem uma solução, seria o ideal. Não tenho é a certeza se o conseguem fazer”.

Rui Moreira confirmou ter recebido a carta do autarca, em que este resume os problemas apresentados pelos moradores e pede que estes tenham acesso gratuito ao parque de estacionamento da Trindade, ao fim-de-semana, até às 15h de domingo, em vez das actuais 10h. Algo a “considerar”, admitiu o autarca, que garantiu ainda que o regulamento da movida poderá ser conhecido nos próximos quinze dias.

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