Marcha em Maputo em homenagem ao constitucionalista assassinado

Gilles Cistac foi morto a tiro em plena capital moçambicana. Os manifestantes pediram "justiça".

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Em Maputo nasceu o slogan “Je suis Cistac” ADRIEN BARBIER/AFP

Cerca de mil pessoas marcharam este sábado em Maputo para prestar uma última homenagem a Gilles Cistac, o constitucionalista morto a tiro esta semana em pleno centro da capital de Moçambique.

Assassinado na terça-feira aos 54 anos, Gilles Cistac, um francês naturalizado moçambicano, era um dos raros advogados de direito constitucional num país onde é quase impossível levar o Estado à justiça.

Nas últimas semanas antes de morrer, Cistac tinha defendido publicamente o projecto de descentralização que o principal partido da oposição, a Renamo, quer defender na Assembleia ainda este mês, considerando a proposta perfeitamente constitucional.

Os manifestantes, incluindo estudantes, defensores dos direitos humanos e responsáveis da oposição, marcharam sem incidentes, num desfile que começou junto ao restaurante onde Cistac foi morto a tiro por quatro homens que passaram dentro de um carro. A marcha terminou frente à Universidade Eduardo Mondlane, onde o franco-moçambicano dava aulas.

Entre os cartazes empunhados pelos manifestantes podia ler-se “Justiça”, “O povo quer segurança” ou ainda, em francês, “Je suis Cistac”, inspirado no slogan “Je suis Charlie” que apareceu na sequência dos atentados de Paris.

Antigos alunos de direito de Gilles Cistac também levaram consigo exemplares da Constituição e recitaram textos de lei relativos à liberdade de expressão. “Eles calaram uma voz mas fizeram levantar as vozes de milhões de moçambicanos. As balas não conseguem matar a liberdade”, declarou Alice Mabote, a presidente da Liga moçambicana dos direitos humanos.

Instalado em Moçambique desde 1993, depois do fim da guerra civil, Gilles Cistac colaborava regularmente com o jornal Canal de Moçambique e era considerado uma das principais vozes críticas do poder, sem estar filiado em nenhum partido.

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