Suspeitas de criminalidade violenta mantêm Pereira Cristóvão na cadeia

O ex-agente da PJ e antigo dirigente do Sporting fica em prisão preventiva por suspeitas de envolvimento numa rede que se dedicava ao assalto de residências.

Foto
Paulo Pereira Cristóvão foi ilibado de um inquérito na Liga de clubes Nuno Ferreira Santos

O ex-inspector da Polícia Judiciária e antigo vice-presidente do Sporting Paulo Pereira Cristóvão, detido na terça-feira por elementos da Unidade Nacional de Contraterrorismo daquela polícia por suspeitas de envolvimento numa rede que se dedicava ao assalto de residências, ficou em prisão preventiva.

Tal como o dirigente da claque leonina Juve Leo Nuno Vieira Mendes, mais conhecido por “Mustafá”, é suspeito de ter sido o autor moral de um crime de roubo qualificado e de três de sequestro, estando ainda indiciado por associação criminosa. Um comunicado divulgado pelo tribunal justifica a opção pela medida de coacção mais gravosa de todas devido a haver fortes indícios da prática de delitos ligados à criminalidade violenta. Mas também perigo de fuga, de destruição de provas e de continuação da actividade criminosa, bem como de perturbação da ordem pública. Ficará na cadeia de Évora, estabelecimento prisional onde só entram agentes da autoridade e outros presos que corram o risco de serem alvo de violência por parte dos reclusos das cadeias comuns. Na quinta-feira, Pereira Cristóvão foi interrogado pelo juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal Carlos Alexandre durante cinco horas e meia.

O grupo terá roubado perto de uma dezena de habitações, causando prejuízos que, somados, atingem várias centenas de milhares de euros. Já a um terceiro suspeito do mesmo caso, o fotógrafo profissional Nuno Lobito, Carlos Alexandre aplicou uma medida de coacção bem mais leve: apenas termo de identidade e residência. Ficará assim em liberdade a aguardar que a investigação prossiga. Sobre ele impendem “fortes indícios do crime de adesão a associação criminosa”, segundo o mesmo comunicado. O seu advogado tentou que lhe fosse retirado o estatuto de arguido, mas sem sucesso.

Igualmente ligado ao universo do Sporting, Nuno Lobito tem trabalhado com vários órgãos de comunicação social, colaborando neste momento com a RTP Memória, num programa sobre fotografia intitulado Revelações. Interrogada pelo PÚBLICO sobre se irá manter o programa, a estação televisiva respondeu que a situação ainda vai ser analisada pela direcção do canal, tendo remetido para mais tarde qualquer comentário sobre o assunto.

Tanto Pereira Cristóvão como “Mustafá” seriam  responsáveis pela escolha de potenciais vítimas dos roubos, consoante os objectos de valor que poderiam ter em casa. Mas nem um nem outro terão tido intervenção directa nos assaltos. O modus operandi do grupo, que integraria três agentes da PSP, era singular: os assaltantes apresentavam-se fardados de polícias e invocavam a necessidade de realizar buscas domiciliárias para se introduzirem nas residências das vítimas. Terão mesmo chegado a falsificar mandados de busca.

Como o PÚBLICO já noticiou, a detenção de Pereira Cristóvão, vice-presidente do Sporting no mandato de Godinho Lopes, de “Mustafá” e de Nuno Lobito, que apareceu em várias publicações como tendo sido o único português que visitou todos os países do mundo, correspondeu à segunda fase da investigação deste caso pelo Departamento Central de Investigação e Acção Penal, a estrutura do MP dedicada à criminalidade violenta e altamente organizada. A primeira teve lugar em Julho do ano passado e levou à detenção de 12 pessoas — uma das quais mulher —, presumíveis autoras da prática dos crimes de associação criminosa, sequestro, roubo qualificado, usurpação de funções, abuso de poderes e detenção de armas proibidas. Entre elas, estão os três polícias, que ficaram em prisão preventiva com mais cinco elementos do grupo.

“Integravam uma organização criminosa dedicada ao roubo no interior de residências, que simulavam tratar-se de verdadeiras acções policiais para cumprimento de buscas domiciliárias judicialmente ordenadas”, descreveu a Polícia Judiciária em comunicado. Já o advogado do antigo dirigente sportinguista declarou que muitas das notícias que têm sido publicadas desde a detenção do seu cliente são falsas. “Eu teria muito a dizer sobre o assunto, mas tenho limitações deontológicas”, referiu à porta do tribunal.

Quando estava na Judiciária, Pereira Cristóvão chegou a ser acusado de torturar Leonor Cipriano, a algarvia condenada pela morte da filha Joana, mas foi ilibado.

Sugerir correcção
Ler 4 comentários