António Costa subscreveria carta aberta porque é um erro isolar a Grécia

Líder do PS volta a insistir nas críticas à austeridade defendida por Passos Coelho.

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António Costa pretende ser presidente da AML Enric Vives-Rubio

O secretário-geral do PS disse hoje, em Bruxelas, que subscreveria a carta aberta sobre a Grécia dirigida por 32 figuras públicas ao primeiro-ministro pois isolar a Grécia "é uma ideia errada", e o Governo tem "persistido" nesse erro.

À saída de uma reunião de líderes dos Socialistas Europeus que antecede o Conselho Europeu desta tarde, em Bruxelas, António Costa, questionado sobre se subscreveria a carta aberta, respondeu que "sim, com certeza", pois "é fundamental que não se isole a Grécia".

"A ideia de diabolizar a Grécia e de isolar a Grécia é uma ideia errada e perigosa", disse, considerando que o alinhamento com Berlim "é um erro persistente que o Governo português tem feito, com a fé que tem de que da austeridade vai resultar o crescimento".

"Bom, depois de três anos de experiência, há um resultado muito claro: a austeridade fracassou do ponto de vista político e fracassou do ponto de vista económico. Do ponto de vista económico, gerou deflação e gerou desemprego; e do ponto de vista político, só tem vindo a fortalecer os radicalismos", observou.

António Costa disse esperar que se deve "recentrar" o debate em curso, e "evitar confrontação".

"Não há uma questão grega. Há uma questão europeia e que deve ter uma resposta europeia, e essa resposta deve-se centrar, em primeiro lugar, numa resposta positiva às situações de catástrofe social que se vivem em vários países, e em particular nos países sujeitos ao ajustamento, como acontece na Grécia, como acontece em Portugal, como acontece em Espanha", disse, defendendo que exigem como respostas imediatas "um programa de resposta à crise social e um programa de recuperação económica".

Perspectivando as discussões que prosseguirão em torno da Grécia, reforçou que é errado o caminho que tem sido seguido, de isolar Atenas desde a tomada de posse do novo governo de Alexis Tsipras, até porque a Grécia é "um país fundamental do ponto de vista geoestratégico, um dos grandes pilares da NATO, numa região onde a Europa não pode ignorar a sua enorme sensibilidade".

"O conflito na Ucrânia e a situação no Médio Oriente exigem um reforço da coesão europeia, exigem uma Grécia de pleno direito na UE", defendeu.

Antes de um Conselho Europeu informal que será precisamente consagrado à Ucrânia, combate ao terrorismo e Grécia, no contexto do aprofundamento da União Económica e Monetária, António Costa participou esta quinta-feira, pela primeira vez, num encontro de líderes da família socialista europeia, a convite do presidente do PES, Serguei Stanishev.

As reuniões preparatórias que o Partido Socialista Europeu (PES, na sigla em inglês) realiza nos dias dos Conselhos Europeus são habitualmente reservadas a líderes socialistas com cargos executivos - como chefes de Estado e/ou de Governo e comissários europeus pertencentes à família política socialista -, tendo António Costa recebido um convite para integrar os trabalhos, menos de três meses depois de assumir a liderança do PS, e enquanto líder da oposição.

Por seu lado, em Lisboa, o líder parlamentar do PS desejou uma resposta "elegante" do primeiro-ministro português à carta aberta de várias personalidades a defender uma "solução multilateral do problema das dívidas europeias", tomando como exemplo a Grécia, contra as "políticas estúpidas".

"Normalmente, todas as cartas têm resposta. Não sei como [o primeiro-ministro] o fará. Às vezes, não escolhe as formas mais elegantes de o fazer. Esperemos que, desta vez, o faça de uma maneira muito elegante que seria ter uma posição bastante diferente da tomada ontem [quarta-feira] pelo Governo português na reunião do Eurogrupo e possa perceber que esta é uma oportunidade para Portugal e para que a Europa vire", afirmou Ferro Rodrigues, após reunião do grupo parlamentar socialista.

O deputado do PS foi uma das 31 pessoas que subscreveram a missiva sobre a "oportunidade que não pode ser desperdiçada para um debate europeu sobre a recuperação das economias e das políticas sociais dos países mais sacrificados", juntamente com o presidente socialista, Carlos César, o comentador político Pacheco Pereira, a deputada bloquista Mariana Mortágua, o antigo líder parlamentar comunista Octávio Teixeira, o ex-ministro das Finanças Bagão Félix, entre outros.

"Quando o país podia aproveitar o choque que está a haver dentro da União Europeia (Eurogrupo e Conselho Europeu) para se colocar ao lado daqueles que querem aproveitar as atuais circunstâncias gregas para haver uma transformação no sentido do crescimento e do emprego e não manutenção de políticas de austeridade - penalizadoras e completamente estúpidas do ponto de vista económico e social -, o Governo português tem feito exatamente o contrário", lamentou Ferro Rodrigues.

Para o parlamentar socialista, trata-se de uma "incompreensível atitude portuguesa no contexto da UE" e o objetivo da carta é "pressionar o Governo português para que mude rapidamente de atitude".

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