Jornalista japonês pede devolução do seu passaporte na Justiça

O Governo confiscou o documento a Sugimoto para o impedir de viajar até à Síria. Repórter diz que “é ataque à liberdade de imprensa”.

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Sugimoto, de 58 anos, planeava viajar para Istambul e daí para a Síria Toshifumi Kitamura/AFP

O fotógrafo independente Yuichi Sugimoto vai pedir ao Governo que lhe devolva o seu passaporte e recorrer para a Justiça na tentativa de recuperar o documento. Tóquio confiscou o passaporte a Sugimoto dias depois do assassínio do jornalista japonês Kenji Goto, executado por membros do autoproclamado Estado Islâmico na Síria.

Foi a primeira vez que o Governo japonês confiscou o passaporte a um cidadão prestes a viajar para o estrangeiro por motivos de segurança e as autoridades explicaram ter actuado com base numa lei que permite retirar o documento de identificação com o objectivo de proteger a vida ou os bens do visado – Tóquio sabia que Sugimoto, de 58 anos, planeava viajar para Istambul a 27 de Fevereiro, pretendendo em seguida chegar à fonteira e entrar em Kobani, a cidade curda síria de onde os combatentes curdos conseguiram recentemente expulsar os jihadistas.

“Para mim, perder o meu passaporte significa perder o meu trabalho”, afirmou Sugimoto numa conferência de imprensa. O jornalista diz ainda temer que o seu caso seja “um mau precedente para outros jornalistas que possam vir a ver os seus passaportes confiscados em detrimento da liberdade de imprensa”.

O jornalista conta que foi avisado por funcionários do Ministério dos Negócios Estrangeiros e da polícia que seria preso, se não entregasse o passaporte. Antes tinha sido pressionado a cancelar a viagem, o que recusou fazer.

O fotógrafo tem 20 anos de experiência em zonas de conflito, tendo trabalhado na ex-Jugoslávia, no Afeganistão, na Palestina, no Iraque e na Síria (onde esteve em 2012 e em 2013), e diz-se suficientemente prudente e experiente para “não atravessar a linha vermelha” que o colocaria em perigo de vida.

O Governo confirmou na segunda-feira ter confiscado o passaporte a Sugimoto, justificando a decisão com os riscos envolvidos com uma viagem para a Síria depois da decapitação de dois japoneses – antes de Goto, tinha sido morto o empresário Haruna Yukawa.

“Devemos respeitar a liberdade dos cidadãos, e esse é o primeiro dever do Estado, mas também é um papel essencial garantir a sua segurança”, afirmou o porta-voz do Governo, Yoshihide Suga. O Estado Islâmico “ameaçou continuar a fazer reféns e a executá-los”, insistiu Suga. “Agimos da forma mais prudente possível, mas esta é uma situação extremamente perigosa.”

Desde a decapitação de Goto, os radicais já anunciaram ter queimado vivo um piloto jordano capturado no Norte da Síria durante um bombardeamento da coligação internacional contra o grupo e a morte de uma trabalhadora humanitária norte-americana de 26 anos (que dizem ter sido morta num raide estrangeiro). O vídeo da morte do piloto foi divulgado na semana passada, mas Amã acredita que ele foi assassinado no início de Janeiro, antes ainda dos japoneses.

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