Japão retirou passaporte a fotógrafo que pretendia viajar para a Síria

Governo nipónico justificou a medida com a necessidade de proteger a vida do fotógrafo. Este diz que está em causa a liberdade de expressão.

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O governo japonês justificou a medida com o caso de Kenji Goto, jornalista executado pelo Estado Islâmico Yuya Shino/Reuters

O governo japonês confiscou o passaporte a um fotógrafo que pretendia viajar para a Síria para cobrir a situação nos campos de refugiados, o que justificou com a necessidade de proteger a vida de Yuichi Sugimoto. A medida, tomada dias depois da divulgação de um vídeo que mostra o assassínio do jornalista japonês Kenji Goto por militantes do grupo jihadista Estado Islâmico (EI), poderá acender o debate sobre a liberdade constitucionalmente garantida de viajar para países estrangeiros, e também sobre a liberdade de informação.

Esta é a primeira vez que o Ministério dos Negócios Estrangeiros japonês retira, por motivos de segurança, o passaporte a um cidadão prestes a viajar para o estrangeiro, disseram fontes governamentais à agência noticiosa japonesa Kyodo. As autoridades de Tóquio, que tomaram esta decisão após o rapto e execução de dois cidadãos japoneses pelo Estado Islâmico, informaram ter actuado com base numa disposição legal que permite confiscar o passaporte de um cidadão com o objectivo de proteger a sua vida, adianta a mesma agência.

O fotógrafo freelance Yuichi Sugimoto, de 58 anos, considerou que lhe foram retirados direitos e que o governo pôs em causa a sua liberdade de viajar, e as liberdades de informação e de expressão. Em declarações à agência Kyodo, por telefone, classificou como “ultrajante” o facto de lhe ter sido confiscado o passaporte. “Isto é um roubo dos nossos direitos”, disse. “O que acontece à minha liberdade de viajar e à liberdade de imprensa?”, perguntou em declarações ao jornal japonês Asahi Shimbun.

Sugimoto planeava viajar para Istambul a 27 de Fevereiro e depois seguir para a Síria, tendo como guia um antigo soldado que tinha levado até à Síria o jornalista Kenji Goto, o segundo japonês a ser morto pelo Estado islâmico.

O jornalista, que tem experiência de trabalho em zonas de conflito, e que já tinha estado na Síria em 2012 e 2013, afirmou ainda que não tinha a intenção de entrar em zonas controladas pelo grupo jihadista, mas sim ir a campos de refugiados no interior da Síria. Assegurou, também, que sempre tomou medidas de segurança e que recuaria se sentisse que a sua vida corria perigo. Planeava voltar ao Japão a 12 de Março.

Segundo a estação pública japonesa NHK, as autoridades tomaram conhecimento da intenção de Sugimoto de viajar para a Síria na sequência de uma entrevista do fotógrafo à imprensa, e agiram depois de ele se ter negado a cancelar o plano. Fontes governamentais disseram que depois de terem pressionado o fotógrafo a cancelar a viagem, o que estes se recusou fazer, tomaram a decisão de o impedir de ir.

Sugimoto contou que funcionários do ministério e elementos da polícia o avisaram, em frente de sua casa, na noite de sábado, que seria preso se não entregasse o passaporte, o que ele acabou por fazer.

Na sequência da crise dos reféns pelo Estado Islâmico, o governo japonês anunciou o reforço das medidas de segurança no interior e no exterior do país para proteger os seus cidadãos, e recomendou para que não viajassem para a Síria, Iraque ou outros países em "alerta máximo".

Muitos cidadãos têm sido impedidos de viajar para a Síria, mas por se temer que possam juntar-se aos grupos jihadistas e não pelo temor que possam vir a ser raptados. A Austrália usou novas leis anti-terrorismo para criminalizar viagens para a zona de Raqqa – quem for para o bastião do Estado Islâmico na Síria sem motivos credíveis pode ser punido com até dez anos de prisão.
 

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