Produção petrolífera saudita deverá manter-se alta

O novo rei não deverá fazer mudanças na política energética do reino, que tem forçado a queda dos preços do barril de crude.

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Riade vai defender com “unhas e dentes” a sua liderança no mercado do petróleo HASSAN AMMAR/AFP

A morte do rei Abdullah da Arábia Saudita não podia ter acontecido em pior altura para o sector petrolífero, num momento em que o reino tenta reafirmar a sua liderança numa indústria mundial em plena mudança.

O economista-chefe da Agência Internacional de Energia (AIE), Fatih Birol, sublinha que a morte do soberano não deverá provocar mudanças “significativas” na política petrolífera saudita.

Desde 2000, o reino investiu dezenas de milhares de dólares para se tornar o único país do mundo a dispor de uma reserva viável de capacidade de produção de três milhões de barris por dia (mbd). O país também aumentou a sua capacidade de refinação para 5 mbd e desenvolveu a sua produção de gás natural.

Aproveitando a instabilidade nos outros países da Organização de Países Exportadores de Petróleo – OPEP (Irão, Iraque, Líbia, Nigéria...), o reino aumentou a sua produção quotidiana de 8 mbd em 2011 para o nível actual de 9,6 mbd, e tudo indica que esses níveis são para manter nos próximos tempos.

Os preços e a produção elevados permitiram à Arábia Saudita dispor de uma almofada financeira de 750 mil milhões de dólares. O subsolo saudita guarda as segundas maiores reservas de crude (266 mil milhões de barris) e as quintas reservas mundiais de gás natural (nove milhões de milhões de metros cúbicos).

Mas, depois de uma década excepcional, o reino luta por manter a sua quota de mercado e a sua liderança face aos produtores não convencionais e não membros da OPEP. Cerca de 90% das receitas públicas sauditas são provenientes da indústria petrolífera.

Sob pressão de Riade, a OPEP decidiu no fim de Novembro manter a sua produção inalterada, acelerando a queda das cotações para níveis inéditos depois da crise de 2008. Os preços também baixaram 50% entre Junho e Dezembro.

Barril a 20 dólares?
Pela primeira vez em 40 anos, a Arábia Saudita, que extrai um décimo do petróleo consumido no mundo, recusou agir para estabilizar o mercado, invocando razões económicas.

“Não é do interesse dos produtores da OPEP reduzir a sua produção”, mesmo que “desça para 20, 40, 50 ou 60 dólares” o barril, disse em finais de Dezembro o ministro do Petróleo saudita, Ali al-Naimi.

“Se eu reduzir a produção, o que é que acontece à minha quota de mercado? Os preços podem voltar a subir, mas os russos, os brasileiros e os produtores americanos do petróleo de xisto vão ficar com a minha parte”, explicou o ministro.

Agora, são raros aqueles que prevêem uma mudança na política saudita com o novo rei Salman. O próprio já veio confirmar que não haverá mudanças.

“Prevejo muita continuidade. A política petrolífera é decidida por um grupo de tecnocratas e não vejo a próxima monarquia a mudar essa ordem das coisas de maneira significativa”, disse à AFP Frederic Wehrey, especialista do Carnegie Endowment for International Peace.

Riade vai defender com “unhas e dentes” a sua liderança no mercado do petróleo, vaticina Jean-François Seznec, um perito e professor da Universidade de Georgetown.

Entre 2005 e 2014, os Estados Unidos conseguiram reduzir as suas importações de crude de 12,5 mbd para 5 mdb, principalmente graças ao aumento da produção de petróleo e gás de xisto. “O establishment petrolífero saudita sente-se de alguma forma ameaçado pelo facto de os americanos estarem a produzir mais recursos energéticos e a limitarem as suas importações”, explica Seznec à AFP.

Para Bassam Fattouh, director do Oxford Institute for Energy Studies, a produção americana "iniciou uma mudança no comércio petrolífero". As exportações africanas e latino-americanas viraram-se para o mercado asiático, mas com uma procura mais fraca por parte da China, que é hoje o primeiro importador de crude do mundo, a competição ficou mais feroz para Riade, que exporta dois terços do seu petróleo para os mercados asiáticos.

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