Deputados gregos votam para eleger Presidente mas incerteza política deve prolongar-se

Fracasso na eleição levaria a legislativas antecipadas. Samaras explora receios do campo financeiro de uma eventual chegada ao poder do Syriza. Partido de esquerda mantém-se à frente nas intenções de voto, mas com menor vantagem.

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"Os gregos pedem que os conduzamos em segurança, finalmente, à saída da crise”, disse Samaras Alkis Konstantinidis/ REUTERS

Os deputados gregos votam, nesta quarta-feira, para escolher um novo Presidente do país. Mas o que está em causa é mais do que a simples eleição de Stavros Dimas. O cenário provável é o de o candidato único não ser eleito nesta primeira ronda. Se o mesmo acontecer nas duas votações seguintes, já agendadas, haverá eleições antecipadas, que podem fazer chegar ao Governo o Syriza (Coligação de Esquerda Radical), que se opõe à austeridade dos últimos anos.

Dimas, ex-comissário europeu, 73 anos, candidato do executivo que reúne conservadores e socialistas, dificilmente conseguirá ser eleito nesta quarta-feira. Para que isso acontecesse teria de ter o apoio de 200 deputados dos 300 que compõem o Parlamento. E o campo governamental tem apenas 155.

O cenário mais provável é o de o processo eleitoral se prolongar – para dia 23 está agendada uma segunda ronda, em que continuam a ser necessários 200 votos para a eleição; e para dia 29, uma terceira, na qual a fasquia baixa para 180.

Os partidos do Governo terão pois de conseguir votos entre os 24 deputados independentes ou de dissidentes dos partidos da oposição, que já declararam não apoiar a eleição de Stavros Dimas. A provavelmente inconclusiva votação desta quarta-feira deverá, contudo, permitir perceber a capacidade do executivo para conseguir apoios fora das suas fileiras.

Ainda que não o diga dessa forma, o primeiro-ministro, Antonis Samaras, explora os receios que o campo financeiro e parte dos deputados têm de uma eventual chegada ao poder do partido antiausteridade Syriza. Argumenta que não eleger um sucessor para o chefe de Estado cessante, Karolos Papoulias, seria, por causa da antecipação de eleições, deitar fora os esforços feitos pelos gregos. “Os gregos pedem que lutemos juntos, para salvaguardar o que conseguimos nos últimos anos com sacrifícios, e que os conduzamos em segurança, finalmente, à saída da crise”, disse, nesta terça-feira, numa declaração, citada pela Reuters.

A antecipação em dois meses de uma eleição presidencial de desfecho incerto – anunciada há uma semana, após o Eurogrupo ter aprovado um pedido grego para um prolongamento por dois meses, até final de Fevereiro, do programa da troika – foi considerada uma jogada política de risco do primeiro-ministro conservador. Isto porque as sondagens dão favoritismo ao Syriza num cenário de eleições antecipadas.

Um estudo GPO divulgado nesta terça-feira confirma que o Syriza está à frente da Nova Democracia, de Samaras, nas intenções de voto em eventuais legislativas antecipadas: 28% contra 23,1%. Os socialistas do Pasok, que integram a coligação governamental, obteriam apenas 5,1%.

A vantagem do Syriza – que acusa o Governo de Samaras e a Comissão Europeia de alarmismo – é, contudo, inferior à de idêntico estudo realizado em Outubro, quando a coligação de esquerda registava uma vantagem de 6,5%. A diminuição da distância tem igualmente vindo a ser detectada noutras sondagens.

No campo financeiro, os receios de mudança na trajectória política traduziram-se em perdas de mais de 20% na bolsa de Atenas, na semana passada. O nervosismo dos mercados levou o governador do banco central, Yannis Stournaras, antigo ministro das Finanças, a falar no “grande” risco de “danos irreparáveis para a economia grega”.

Em vésperas de uma importante batalha política, uma visita a Atenas do comissário europeu dos Assuntos Económicos foi interpretada como um gesto de apoio ao Governo, mas Pierre Moscovici quis afastar essa ideia. “Não estou preocupado com a política grega”, disse, depois de afirmar que “os esforços começam a compensar, é o momento de os consolidar”. A preocupação da Comissão, declarou também, citado pela AFP, é “terminar o segundo programa de assistência rapidamente e em boas condições”, para permitir a partida definitiva da troika “em Fevereiro”.


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