NATO confirma nova incursão militar russa em território ucraniano

Acordo de cessar-fogo já só existe no papel, diz a Aliança Atlântica.

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A coluna militar, sem matrículas nem insígnias, foi fotografada a caminho de Donetsk AFP/DIMITAR DILKOFF

Bastaram dois meses para a história se repetir na Ucrânia. A NATO confirmou uma nova incursão militar russa em território ucraniano; o Governo de Kiev manifestou a sua intenção de combater qualquer invasor; o Kremlin exigiu que fossem apresentadas “provas concretas” do movimento das suas tropas e o Conselho de Segurança das Nações Unidas marcou nova reunião urgente para discutir a escalada da crise.

A questão que se coloca é: ainda será possível evitar – pela segunda vez – uma guerra que já no Verão era dada como inevitável? O precário acordo de cessar-fogo, firmado no início de Setembro pelo Governo de Kiev e os grupos separatistas do Leste do país, com o apoio de Moscovo, está objectivamente enterrado – e com ele as esperanças de uma solução para o conflito.

“O cessar-fogo só existe no papel. No terreno, a violência aumenta a cada dia”, resumiu o general Philip Breedlove, comandante supremo das forças da Aliança Atlântica na Europa. Nos últimos dois dias, informou, foram avistados “tanques russos, artilharia russa, sistemas de defesa aérea russos e tropas de combate russas” na zona leste da Ucrânia, em áreas dominadas por grupos separatistas. “Desde o início da semana temos visto várias colunas de equipamento [militar] russo atravessar a fronteira da Rússia e entrar em território ucraniano”, referiu.

Os observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) que se encontram em missão na Ucrânia também confirmaram ter visto uma coluna de 43 camiões militares sem insígnia, que incluía vários canhões de artilharia e pelo menos cinco lançadores de rockets, em trânsito para a cidade de Donetsk, um dos centros da insurreição contra o Governo de Kiev. De acordo com o Pentágono, a Rússia acaba de destacar 8000 soldados para a região de fronteira com a Ucrânia.

Num discurso aos chefes militares, citado pela agência Tass, o ministro russo da Defesa, Serguei Shoigu, disse que as “presentes circunstâncias” obrigavam o país a expandir a sua presença “até ao limite das suas fronteiras”, com patrulhas aéreas na parte ocidental do Atlântico, a leste do Pacífico e ainda nas Caraíbas e golfo do México. O governante não referiu explicitamente quais eram as circunstâncias que justificavam os esforços militares, mas deixou subentendido que tinham a ver com as movimentações da NATO em reacção à crise ucraniana.

O cenário de guerra é em tudo semelhante ao de Agosto passado, quando a tensão entre os dois países chegou ao rubro, quando o Kremlin insistiu no envio de uma coluna humanitária para o Leste da Ucrânia enquanto o Governo de Kiev denunciava uma invasão militar russa. Os meios militares russos foram retirados da Ucrânia depois da assinatura do cessar-fogo – que nunca resultou num fim dos combates.

A violência tem vindo a aumentar desde a realização de eleições regionais no Leste (um escrutínio que não foi reconhecido pelo Presidente do país, Petro Poroshenko). Esta quarta-feira, a cidade de Donetsk esteve debaixo de fogo durante várias horas: segundo a CNN, a “barragem de artilharia” foi disparada do centro para as posições governamentais e também para o aeroporto da cidade, já parcialmente destruído por meses de confrontos.

O ministro da Defesa da Ucrânia, Stepan Poltorak, disse que o Exército nacional está preparado para a defesa. “Estamos atentos às movimentações [russas] e a postos para as operações de combate: sabemos que eles são imprevisíveis.”

Os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia incluíram o tema na agenda da sua reunião da próxima segunda-feira, mas fontes diplomáticas citadas pela Reuters consideraram “pouco provável” um endurecimento das sanções aplicadas à Rússia em retaliação pela acção de desestabilização da Ucrânia. A possibilidade não foi, porém, totalmente descartada: “As medidas já adoptadas têm sido penalizadoras para a Rússia e podem ser revistas, se não restar alternativa.”

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