Esquerda nacionalista ameaça não pagar a parte catalã da dívida

“Negociar de igual para igual com o Estado só se pode fazer com a independência”, diz o líder da Esquerda Republicana, que tira o apoio a Artur Mas e exige eleições antecipadas na região autonómica.

Foto
Oriol Junqueras: "egociar de igual para igual com o Estado só se pode fazer com a independência" LLUIS GENE/AFP

Oriol Junqueras, o líder da Esquerda Republicana da Catalunha, está cansado da aliança com o presidente da Generalitat, Artur Mas, e quer eleições antecipadas para que haja um governo autonómico com uma maioria clara, que permita “exercer a independência tão rapidamente quanto possível”. E para forçar Madrid a aceitar a saída da Catalunha a Espanha, tem a ameaça de não pagar a parte que lhe compete da dívida pública como argumento.

Em entrevista ao El País, publicada a uma semana da “consulta pública” sobre a independência de 9 de Novembro, que Artur Mas promete que se vai realizar, apenas com trabalho voluntário de cidadãos catalães — depois de o referendo ter sido considerado ilegal pelo Tribunal Constitucional —, Junqueras diz que o seu partido “vai ajudar como puder.” Mas o seu coração de independentista catalão já não está aqui.

O Governo de Madrid está a fazer todos os possíveis por travar esta consulta que não tem validade jurídica, nem foi convocada oficialmente por Artur Mas — não há decretos ou ordens de serviço do presidente da Catalunha a convocar esta consulta, pistas em papel que possam mostrar que está a contrariar a decisão do Tribunal Constitucional. Mas Madrid denuncia que foram feitos telefonemas para presidentes de câmara catalães para disponibilizarem instalações municipais para a votação e que funcionários públicos foram mobilizados para o 9 de Novembro.

O Governo central tinha inicialmente diminuído a importância da consulta sem valor pretendida por Artur Mas. Foi nos últimos dias que começou a movimentar-se para a impedir, com um novo recurso ao Constitucional. “Cruzaram a linha do ridículo e estão a agir com um abuso de poder e de direito”, comentou o presidente da Generalitat. “Em 15 dias passaram de gozar connosco, ridicularizar-nos em público, a dizer que vão recorrer.” Mas não diz o que fará se o Tribunal Constitucional considerar que a consulta de 9 de Novembro também é ilegal.

Já para Oriol Junqueras, cujo partido disparou enormemente nas últimas eleições, o mais importante é o que fazer depois.

A Constituição é um muro
“O Estado [espanhol] converteu a Constituição num muro. É preciso seguir em frente, como deveríamos ter feito no referendo”, declarou ao El País. Se não se realizou o referendo, mesmo contra a opinião de Madrid e do Tribunal Constitucional, o correcto teria sido convocar os catalães para votar antecipadamente para um novo governo autónomo com um mandato reforçado.

“O relevante é exercer a independência. Negociar de igual para igual com o Estado só se pode fazer com a independência. E são vitais os argumentos que pomos na mesa. A sociedade catalã assumirá sempre uma parte da dívida espanhola desde que Espanha aceite negociar os activos. Se o Estado espanhol não negociar, tornará inviável que a economia catalã assuma os encargos da sua dívida, e Espanha entrará em situação de incumprimento”, afirmou o Junqueras.

“Soa a ameaça”, respondeu-lhe o jornalista do El País que o entrevistava. “Absolutamente. Ficaremos encantados de assumir a parte que nos corresponda, mas só o poderemos fazer se o Estado não se negar a negociar. A comunidade internacional fá-los-á negociar.”

Para já, a Esquerda Republicana está a bloquear a aprovação do Orçamento para 2015 no parlamento autonómico catalão. Miguel Iceta, o líder do Partido Socialista da Catalunha, ofereceu-se para negociar com a Convergência e União de Artur Mas as contas do próximo ano, mas recebeu como resposta um desafio a juntar-se ao “processo participativo” de 9 de Novembro. Os socialistas, tal como o Partido Popular catalão, mantêm-se fora do movimento independentista.     

Sugerir correcção
Comentar