Mobilidade de profissionais de saúde por “manifesta carência” com novas regras

Federação Nacional dos Médicos nota que medidas inscritas na versão preliminar do Orçamento para 2015 serão um "recuo" da tutela em relação ao acordado.

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Os sindicatos dão como exemplo que Aveiro e Castelo Branco são zonas afastadas mas dentro da mesma área geográfica Fábio Teixeira

Perante uma “manifesta carência” de recursos humanos e desde que seja dentro da “respectiva área geográfica de influência”, os profissionais de saúde vão passar a estar sujeitos à mobilidade entre as várias unidades já no próximo ano – uma mudança que na prática afectará sobretudo os médicos. A medida consta de uma versão preliminar do Orçamento do Estado para 2015 a que o PÚBLICO teve acesso e que a Federação Nacional dos Médicos (Fnam) lê como uma “sobreposição à contratação colectiva”.

De acordo com a proposta para o próximo ano, “em situações de manifesta carência, susceptíveis de poderem comprometer a regular prestação de cuidados de saúde, podem as Administrações Regionais de Saúde utilizar a mobilidade (…) de um trabalhador de e para órgão ou serviço distintos, desde que, ambos, situados na respectiva área geográfica de influência”.

A medida surpreendeu o vice-presidente da Fnam, que garante que os sindicatos não foram ouvidos neste processo. Sérgio Esperança explicou que só nesta quinta-feira foram contactados para um encontro com a tutela, ainda com data por determinar, mas que terá como principal tema o acordo que foi assinado em 2012 entre as duas partes e que contou com medidas como o aumento da lista de doentes dos médicos de família, a passagem para o horário de trabalho de 40 horas semanais e o corte no valor pago pelo trabalho extraordinário.

Sérgio Esperança reforça que a actual legislação já prevê a mobilidade dos médicos em situações de "interesse público", mas sempre com compensações, e acusa a tutela de estar a “mostrar um grande recuo em relação ao que está estabelecido”, lembrando que nas condições actuais as deslocações dos profissionais eram pagas pelas unidades de saúde e que na proposta agora conhecida nada é dito sobre esse ponto. Por outro lado, no que diz respeito à área geográfica de influência, o sindicalista lembra que “um médico da Administração Regional de Saúde do Centro corre o risco de trabalhar em Aveiro e de ser deslocado para Castelo Branco”.

Ainda no campo laboral dos profissionais de saúde, a proposta para 2015 determina que “os níveis retributivos, incluindo suplementos remuneratórios, dos trabalhadores com contrato de trabalho no âmbito dos estabelecimentos ou serviços do SNS com a natureza de entidade pública empresarial, celebrados após 1 de Janeiro de 2015, não podem ser superiores aos dos correspondentes trabalhadores com contrato de trabalho em funções públicas”.

A medida abrange todas as verbas pagas, nomeadamente as horas de trabalho nocturno. Aliás, é apresentada uma tabela que será aplicada a todos os profissionais de saúde e que diz respeito aos valores pagos pela primeira hora e horas seguintes tanto no trabalho diurno como nocturno, seja nos dias úteis ou nos domingos e feriados.

Sobre esta tabela, Sérgio Esperança diz que mantém, em geral, os valores pagos em 2014, com excepção da primeira hora do trabalho extraordinário ou suplementar durante o dia e durante a semana que baixa de 1,24 para 1,125. “O problema é que esta tabela é inaceitável do nosso ponto de vista e vai contra o que foi prometido”, defende Sérgio Esperança, que diz que a tabela mantém os cortes que vigoraram durante o programa de ajuda externa. “O acordo previa que os valores fossem repostos no fim do programa, mas afinal parece que a troika não foi embora”, afirma o dirigente da Fnam, que acusa a tutela de fazer uma “sobreposição do Orçamento do Estado à contratação colectiva”.

Também as novas contratações vão ter regras apertadas, com as instituições de saúde a ficaram proibidas de “proceder ao recrutamento de trabalhadores para a constituição de vínculos de emprego por tempo indeterminado, ou a termo”. Há excepções, mas apenas para os casos em que não consigam resolver a carência com recurso a medidas como a mobilidade e a requalificação dos profissionais. Em todos os casos terão sempre de demonstrar que “os recrutamentos em causa estão previstos nos orçamentos dos serviços a que respeitam”. Nada é dito em específico sobre a contratação de enfermeiros que o ministro da Saúde, Paulo Macedo, se comprometeu a agilizar em 2015.

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