Sem fazer campanha, a Rainha fez campanha: “pensem bem” antes de votar

Tem sido a imprensa a dar conta da profunda preocupação da Rainha com a eventualidade de uma Escócia independente

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Um apoiante do "não" mostra um autocolante com o apelo aos escoceses de Isabel II: "a União precisa de ti" BEN STANSALL/AFP

Oficialmente, a Rainha Isabel II não tem nada a dizer sobre o referendo da independência que se realiza na quinta-feira na Escócia. Mas ninguém tem dúvidas de que a soberana não irá gostar de perder uma das jóias da sua coroa.

Num gesto excepcional, o Palácio de Buckingham achou por bem recordar à opinião pública, na semana passada, o direito de reserva de Sua Majestade

“A imparcialidade constitucional da soberana é um princípio estabelecido da nossa democracia, e a Rainha manteve-se fiel a esse princípio ao longo do seu reinado. A monarca está acima da política e os responsáveis do Governo têm por dever fazer com que isso seja sempre assim”, sublinhou um porta-voz do palácio real.

Estes esclarecimento foram considerados necessários depois de a imprensa britânica ter revelado que vários responsáveis políticos, incluindo o primeiro-ministro, David Cameron, em pânico por causa do avanço do “sim” à independência, terem apelado à sua intervenção na campanha.

Mas a perspectiva de uma secessão no seu reino está certamente a preocupar Isabel II, e alguns jornais ingleses têm feito a campanha por ela. “As ligações de longa data da rainha à Escócia serão irrevogavelmente quebradas em caso de vitória do ‘sim’”, escreveu o Daily Telegraph.

O mesmo jornal recorda uma declaração de natureza muito política, sobre a integridade do Reino Unido, feita em 1977 no Parlamento de Westminster, por ocasião do Jubileu de Prata. Na altura, a Escócia e o País de Gales reclamavam transferências de poderes.

“Não posso esquecer que fui coroada Rainha do Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte”, disse então Isabel II, insistindo “nos benefícios que a união trouxe no plano interno e internacional a todos os habitantes de todas as partes do Reino Unido”.

Agora, “se tudo correr mal na quinta-feira, a Rainha vai arrepender-se muitíssimo de não ter feito mais”, considerou o Daily Telegraph.

Alex Salmond, líder dos independentistas escoceses, prometeu que uma Escócia independente conservará a Rainha como chefe do Estado, como ela o é para o Reino Unido e os outros 15 Estados da Commonwealth. Mas por quanto tempo mais? São cada vez mais os nacionalistas escoceses que não escondem o seu fervor republicano, avisa o Guardian.

O Times e outros jornais deram conta, na semana passada, da “inquietação” da Rainha. “Espero que as pessoas pensem muito bem sobre o futuro”, terá afirmado a Rainha no domingo, depois de ter assistido a um serviço religioso perto do seu castelo escocês em Balmoral. A declaração saiu em todos os jornais, Buckingham desmentiu-a, mas a mensagem foi passada.

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