Rebeldes sírios acusados de utilizar crianças-soldado na guerra contra Assad

A organização Human Rights Watch denuncia o recrutamento de jovens de 15 anos para operações de combate.

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Um rapaz com a sua arma nos subúrbios de Idlib REUTERS/Shaam News Network

A Human Rights Watch (HRW) apelou aos rebeldes sírios para deixarem de recrutar adolescentes para os combates e avisou os países que financiam esses grupos de que podem ser acusados de “crime de guerra”.

Num relatório publicado nesta segunda-feira, a organização de defesa dos direitos humanos acusa os vários grupos rebeldes que combatem o regime de Bashr al-Assad, numa guerra que dura há mais de três anos, de “utilizar jovens a partir dos 15 anos nos combates, por vezes com o pretexto de lhes oferecerem uma educação”.

“Os grupos extremistas, como o Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS) recrutaram jovens misturando estudos e treino no manuseamento de armas e dando-lhes tarefas perigosas, incluindo missões-suicidas”, escreve a HRW.

O relatório baseia-se nas experiências relatadas por 25 crianças-soldado em actividade ou que já estiveram na Síria. Para além do ISIS, os jovens combateram nas fileiras do Exército Livre da Síria, na Frente Islâmica al-Nusra, braço sírio da Al-Qaeda, bem como nas forças curdas.

Por razões de segurança e de logística, a investigação não se estendeu às forças pró-governamentais.

“Os grupos armados não devem recrutar crianças vulneráveis que viram os seus pais serem mortos, as suas escolas bombardeadas e o seu ambiente destruído”, diz a autora do relatório, Priyanka Motaparthy. “Os horrores do conflito armado na Síria tornam-se ainda piores quando se enviam crianças para a linha da frente”, diz esta investigadora, especialista em direito das crianças.

O número de crianças-soldado é desconhecido mas, em Junho de 2014, uma organização síria próxima da oposição, o Centro de Documentação de Violações, deu conta de “194 crianças ‘não-civis’ mortas na Síria desde Setembro de 2011”.

Os jovens interrogados pela HRW participaram nos combates, actuaram como atiradores furtivos, guardaram postos de controlo, espiaram, trataram de feridos nos campos de batalha e levaram munições e mantimentos para as frentes de batalha.

Muitos dizem ter-se juntado aos combatentes para seguirem os seus amigos ou pais, outros porque os combates ocorriam nos bairros onde viviam e, não podendo ir à escola ou fazer outra coisa qualquer, escolheram combater. Alguns, tendo participado nas manifestações pacíficas nos primeiros dias da contestação em Março de 2011, quiseram envolver-se mais na luta contra Assad e outros escolheram a rebelião depois de terem sido maltratados pelas forças governamentais.

Os entrevistados eram todos rapazes, mas o Partido Curdo de União Democrática recruta raparigas para vigiarem postos de controlo e para efectuarem patrulhas nas zonas que eles controlam

“Todos os grupos devem comprometer-se publicamente a proibir o recrutamento de crianças e os governos que ajudam estes grupos devem insistir junto deles e verificar que tal não acontece. Seja quem for que ajude financeiramente estes grupos que enviam crianças para a guerra pode ser considerado cúmplice de crimes de guerra”, avisa a HRW.

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