Eurocépticos rompem domínio bipartidário com mais de um século

Como se previa, o UKIP foi o incontestado vencedor das eleições europeias no Reino Unido. Conservadores e Trabalhistas tentam minimizar estragos.

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Nigel Farage tem motivos para sorrir Luke MacGregor / Reuters

As eleições europeias confirmaram o crescimento imparável do partido eurocéptico UKIP. Quando a votação na maior parte dos círculos eleitorais do Reino Unido tinha já sido apurada, o UKIP aparecia num destacado primeiro lugar, bastante à frente dos Conservadores e dos Trabalhistas. O Partido Liberal Democrata – parceiro de coligação dos tories no governo – foi praticamente varrido do mapa eleitoral.

Nigel Farage era, ao final da noite de domingo, um homem feliz. A vitória sobre os três partidos do establishment político britânico era iminente. O feito do UKIP é “um terramoto porque nunca antes, na política britânica, um partido visto como insurgente havia vencido umas eleições nacionais”, disse. Desde 1910 que nenhuma eleição nacional britânica tinha sido ganha por um partido que não o Trabalhista ou o Conservador.<_o3a_p>

Das nove regiões eleitorais apuradas – de um total de doze, incluindo a Escócia, a Irlanda do Norte e Gales –, o UKIP venceu seis e, com 28% dos votos, já tinha assegurado mais de 20 lugares no hemiciclo europeu, com a possibilidade de duplicar os 16% obtidos em 2009. A cereja em cima do bolo talvez tenha sido a conquista de um eurodeputado na Escócia, em pleno debate independentista. O UKIP ultrapassou a barreira dos cem mil votos na Escócia, pela primeira vez na sua história, o que, de acordo com alguns analistas, pode dar força à argumentação de que o apelo dos eurocépticos ultrapassa até a fronteira inglesa.<_o3a_p>

O “terramoto” da vitória dos eurocépticos pode ter consequências mais além da arena europeia. Em causa está a própria liderança do Partido Liberal, cujo líder Nick Clegg tem agora a cabeça a prémio. De acordo com a imprensa britânica, o partido está dividido como nunca antes na sua história e a derrota avassaladora nas europeias vem colocar ainda mais pressão no parceiro de coligação dos Conservadores.<_o3a_p>

O próprio Farage não esqueceu os adversários e aproveitou para lhes apontar baterias: “Podemos perfeitamente ver um líder partidário forçado a abandonar o seu posto e outro a reconsiderar a sua política de oposição ao referendo sobre a Europa.” <_o3a_p>

Quando os resultados começaram a ser conhecidos, o presidente dos Liberais, Tim Farron, já admitia que os resultados podiam ser tão maus como aquilo que temiam. “Se tivéssemos feito isso [evitado formar uma coligação] estaríamos numa posição mais saudável esta noite”, disse Farron ao The Guardian. As projecções estavam em linha com as piores perspectivas apontadas pelas sondagens, que davam 6% dos votos aos Liberais, perdendo quase a totalidade dos 11 eurodeputados eleitos em 2009.<_o3a_p>

Se os eurocépticos podem mostrar um largo sorriso e os Liberais têm de procurar onde se esconder, no meio-termo ficam os Conservadores e os Trabalhistas. O partido de David Cameron piorou a prestação face a 2009, mas parecia estar prestes a contrariar as sondagens que lhe atribuíam o terceiro lugar, conseguindo atingir os 24%. Os Trabalhistas conseguiram melhorar bastante em relação às últimas europeias, em que conseguiram apenas 15% dos votos, atingindo agora os 23%.

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