Kiev promove negociações, mas sem sentar separatistas à mesa

Preparação das eleições presidenciais ucranianas continua, ainda que não devam abranger todo o país.

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Os boletins de voto das presidenciais estão a ser impresos SERGEI SUPINSKY/AFP

“Estou surpreendido por não ver aqui ninguém de Lugansk”, comentou Oleksandr Iefremov, deputado e ex-governador de Lugansk, uma das regiões do Leste do país, junto com Donetsk, que declarou a independência, após o referendo de domingo sobre a autogovernação. “Temos pessoas que pensam de forma diferente, que têm culturas diferentes, e temos a responsabilidade de criar um Estado que corresponda às necessidades do nosso povo”, afirmou Iefremov, citado pelo New York Times.

“Estamos prontos a escutar as pessoas do Leste. Mas não é preciso disparar, pilhar e ocupar os edifícios administrativos”, afirmou Oleksandr Tourchinov, Presidente interino, ao inaugurar a mesa redonda. Os separatistas não foram convidados, disse. “Os que, de armas na mão, se entregam a uma guerra contra o seu próprio país, que nos impõem a vontade do país vizinho, responderão perante a lei. Nós não cederemos à chantagem.”

Esta posição não mostra grande disposição para um compromisso por parte do Governo interino, quando se aproximam as eleições presidenciais de 25 de Maio – cuja realização é considerada prioritária pela União Europeia. Ainda que os aliados ocidentais gostassem de ver Kiev entrar pela via da negociação – a chanceler alemã Angela Merkel tinha considerado que quantos mais representantes das várias posições da sociedade ucraniana estivessem representadas nesta reunião, melhor seria, salienta a Reuters.

A situação pode estar a deteriorar-se também em Kiev, com o Partido das Regiões, a que pertencia o Presidente deposto Viktor Ianukovich, a tornar-se cada vez mais crítico da intervenção do Exército ucraniano no Leste do país que, afirma, está apenas a inflamar ainda mais a crise. Numa declaração lida na mesa-redonda, o partido pediu que se “parasse com o banho de sangue”.

Numa altura em que a Ucrânia está sob a ameaça de partição, a União Europeia sublinha a necessidade de as eleições presidenciais de 25 de Maio se realizem com normalidade. Paris e Berlim disseram-no num comunicado conjunto, após a participação do ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Frank-Walter Steinmeier, no conselho de ministros francês – uma estreia absoluta. Mas é bastante provável que a votação não decorra em todo o território, porque Kiev não controla todo o país.

Nem sequer os media ucranianos funcionam já nos territórios do Leste – tal como aconteceu na Crimeia, as frequências de rádio e televisão foram ocupadas por medias russos, relata a AFP. As próprias estações foram ocupadas por homens armados e passaram a transmitir programação dos meios de comunicação russos.

Enquanto isto se passa, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Moscovo, Sergei Lavrov, continua a dizer que a “Ucrânia está à beira de uma guerra civil, com ucranianos a matar ucranianos”. O presidente do Parlamento, Sergei Narishkin, contribuiu para a refrega afirmado que o Presidente que for eleito a 25 de Maio não será completamente legítimo, relata a Reuters. “O grau de legitimidade do regime ou do Presidente eleito, se as eleições se realizarem, não será total”, afirmou na televisão Rossia-24.

 

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