Merkel e Hollande ameaçam Rússia com sanções "apropriadas"

Paris e Berlim endurecem discurso contra Moscovo, mas pedem também a Kiev a suspensão das "acções ofensivas" no Leste da Ucrânia.

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Hollande e Merkel dizem que o adiamento das presidenciais desestabilizará ainda mais a Ucrânia Alain Jocard/AFP

A chanceler alemã e o Presidente francês avisaram que a Rússia vai sofrer “consequências apropriadas” se as suas acções na Ucrânia impedirem a realização das eleições presidenciais, a 25 de Maio. Angela Merkel e François Hollande reafirmaram que os referendos que os separatistas agendaram para este domingo não têm qualquer legitimidade.

O alerta – na senda de muitos outros enviados a Moscovo pelos europeus desde o início da crise na Ucrânia – está escrito num comunicado divulgado em Stralsund, cidade numa ilha do Báltico onde Merkel recebe neste fim-de-semana o Presidente francês numa visita que os dois Governos descrevem como informal.

“O fracasso na realização de eleições presidenciais reconhecidas internacionalmente desestabilizará ainda mais o país. A Alemanha e a França estão de acordo que, se isso acontecer, então terão de ser adoptadas as consequências apropriadas que foram delineadas na reunião do Conselho Europeu de 6 de Março”.

Mesmo sem a nomear, os dois dirigentes deixam claro que cabe à Rússia impedir acções de desestabilização que poderiam levar à suspensão das eleições numa parte do país – na reunião a que o comunicado se refere, os líderes da UE acordaram adoptar sanções de terceiro nível (medidas que visam sobretudo a economia russa) se Moscovo interviesse no Leste da Ucrânia, onde a maioria da população fala russo e mantém fortes ligações ao país vizinho.

Inicialmente as sanções estavam reservadas para o caso de uma invasão do território ucraniano por parte do Exército russo. Mas Paris e Berlim fazem agora saber que estão disponíveis para avançar se as acções dos grupos pró-russos impedirem as presidenciais, vistas como uma etapa crucial para estabilizar o país, em convulsão desde que manifestantes pró-ocidentais saíram às ruas em Novembro para denunciar a decisão do então Presidente Viktor Ianukovich de não assinar um acordo que aproximaria o país da UE.

Os dois dirigentes exigem ainda ao Presidente russo que ordene uma “retirada visível” das suas forças da fronteira com a Ucrânia. Na semana passada, Vladimir Putin disse ter dado ordens para a redução dos efectivos na zona, mas a NATO (que mantém a zona sob vigilância constante) afirmou não ter constatado qualquer movimentação significativa.

Mas a lista de obrigações não se resume à Rússia: no comunicado, Merkel e Hollande aconselham o governo interino da Ucrânia a “abster-se de acções ofensivas” no Leste da Ucrânia, de maioria russófona. “O uso legítimo da força para proteger pessoas e infra-estruturas deve ser proporcional”, acrescentam. Na semana passada, Kiev pôs em marcha o que chama de “operação antiterroristas” contra os separatistas armados que ocuparam dezenas de edifícios nas regiões de Donetsk e Lugansk, autoproclamando-as “repúblicas autónomas”.

É precisamente aí que, neste domingo, os separatistas se propõem organizar um referendo para decidir sobre a cisão com Kiev, cujo governo não reconhecem, ainda que sejam pouco claros os moldes e a forma como a consulta vai ser organizada – em muitas cidades não controlam mais do que um punhado de edifício públicos. Estes referendos, lê-se no comunicado conjunto de Stralsund, “são ilegais” e não serão reconhecidos internacionalmente.

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