Wolfgang Schäuble compara Crimeia à invasão da Checoslováquia por Hitler

Ministro das Finanças alemão diz que os métodos da Rússia de Vladimir Putin "foram utilizados por Hitler para anexar a região dos sudetas". Angela Merkel diz que a Crimeia "é um caso único".

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O ministro alemão disse depois que "rejeita claramente quaisquer comparações entre a Rússia e o Terceiro Reich" John Kolesidis/Reuters

O influente ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, juntou-se à lista de pessoas que comparam a postura da Rússia em relação à Ucrânia aos acontecimentos que levaram à invasão da antiga Checoslováquia por Adolf Hitler, em 1938.

"Sabemos disso através da História. São métodos que foram utilizados por Hitler para anexar a região dos sudetas", disse o ministro perante uma plateia de estudantes alemães, durante uma audiência pública no Ministério das Finanças.

Era difícil negar o teor desta declaração, mas Wolfgang Schäuble não teve outra alternativa, depois da frieza com que ela foi recebida pela chanceler alemã, Angela Merkel. Questionada numa conferência de imprensa sobre se a comparação é legítima, Merkel limitou-se a responder que "a anexação da Crimeia é um caso único" e a reafirmar que constitui uma violação das leis internacionais.

O ministro das Finanças veio depois transmitir a sua posição final sobre a matéria, através do seu porta-voz: "O ministro Schäuble deixou claro, num evento com estudantes, que as acções da Rússia na Ucrânia violam as leis internacionais e alertou para as consequências de uma falência da ordem do Estado. Rejeita claramente quaisquer comparações entre a Rússia e o Terceiro Reich."

No dia 4 de Março, a antiga secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton proferiu declarações no mesmo sentido. "Se isto soa a algo familiar, foi o que Hitler fez na década de 1930", disse Clinton durante uma campanha de recolha de fundos em Long Beach, na Califórnia.

"Hitler estava sempre a dizer que todos os que eram de etnia alemã, descendentes de alemães que estavam em sítios como a Checoslováquia e a Roménia, não eram bem tratados. 'Tenho de ir lá proteger o meu povo', e foi isso que deixou toda a gente tão nervosa", reforçou Clinton.  

No dia seguinte, a antiga secretária de Estado norte-americana quis corrigir as suas declarações: "Só quero que toda a gente tenha um pouco de perspectiva histórica. Não estou, de modo algum, a fazer uma comparação, mas estou a recomendar que talvez possamos aprender algo com esta táctica, que já foi usada", disse Clinton na Universidade da Califórnia, em Los Angeles.

Em causa estão os argumentos usados pelo Presidente da Rússia, Vladimir Putin, que justificou a presença na Crimeia com a necessidade de proteger os cidadãos de etnia russa.

Em 1938, Adolf Hitler anexou a região dos sudetas (de maioria germânica) após um acordo assinado em Munique com o então primeiro-ministro britânico, Neville Chamberlain; o chefe do Governo francês, Édouard Daladier; e o líder fascista italiano Benito Mussolini.

Nos termos desse acordo – que Neville Chamberlain descreveu como "o prelúdio de um acordo mais abrangente, através do qual toda a Europa poderá encontrar a paz", e Winston Churchill classificou como "um desastre de primeira grandeza que se abateu sobre o Reino Unido e a França" –, a Alemanha comprometeu-se a não anexar o restante território da Checoslováquia. Seis meses depois, as tropas nazis entravam em Praga.

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