Editorial: Riscos crescentes na Ásia

A decisão do primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, de visitar o santuário de Yasukuni, onde são homenageados dois milhões e meio de japoneses mortos em combate, mas também 14 criminosos de guerra, incluindo o primeiro-ministro japonês entre 1941 e 1944, Hideki Tojo, foi mais um passo numa escalada de tensão na Ásia que não conduzirá necessariamente a um conflito armado, mas ameaça transformar as relações entre os principais actores da região.

 A China e a Coreia do Sul reagiram com indignação à visita, que reacende os fantasmas da II Guerra Mundial. Washington declarou-se desapontada com a deslocação, que torna mais difíceis as suas escolhas numa região que elegeu como a principal prioridade da sua política externa.

Com este gesto, Abe disse que o Japão está um pouco mais perto de alterar a sua Constituição para poder remilitarizar-se. É uma opção que ganha cada vez mais peso no Japão, dado o crescente aumento das despesas militares da China. Ao satisfazer os revisionistas japoneses, que não aceitam a narrativa aliada quanto ao papel do Japão no conflito de 1939-45, Abe dá também força aos nacionalistas mais radicais do lado chinês.

O maior travão a este crescendo é que tanto a China como o Japão precisam de manter boas relações com os Estados Unidos. E, para Washington, o risco é deixar-se envolver neste conflito entre as duas principais potências asiáticas e perder espaço de manobra para impor os seus interesses estratégicos.

O problema é que a zona do mundo onde a economia cresce mais depressa está a afastar-se de um modelo de cooperação regional capaz de acomodar as diferenças entre os seus actores e a aproximar-se de um modelo baseado na gestão de conflitos através da ameaça e da permanência das tensões militares. Os riscos deste jogo para a estabilidade mundial a médio e a longo prazo são enormes.
 
 
 
 

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