Amnistia: UE devia ter vergonha por fechar as portas a refugiados sírios

Organização de defesa dos direitos humanos diz que número de sírios que os países-membros aceitaram realojar é "patético" e denuncia tratamento lamentável dos refugiados na Grécia e Bulgária.

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Na Bulgária há sírios a viver em centros de acolhimento fechados NIKOLAY DOYCHINOV/AFP

Os líderes europeus deveriam “ter vergonha na cara” por continuarem a fechar as portas aos refugiados sírios, acusa a Amnistia Internacional. A organização de direitos humanos considera “patético” o número de pessoas fugidas à guerra que os países da União Europeia prometeram receber e acusa-os de não respeitarem os direitos dos que chegam por meios ilegais às suas portas.

O comunicado da Amnistia – divulgado um dia depois da chegada a Portugal de 74 cidadãos sírios num voo da TAP oriundo de Bissau – não poupa nas palavras para denunciar a falta de generosidade de uma comunidade que se define como defensora dos direitos humanos, na Europa e fora dela.

No seu conjunto, os países da UE comprometeram-se a receber 12 mil sírios, “apenas 0,5% dos mais de 2,3 milhões de refugiados” nos países vizinhos da Síria. Apenas 10 dos 28 Estados-membros ofereceram acolhimento, temporário ou definitivo, aos refugiados, sendo que 10 mil vão ser recebidos pela Alemanha. França aceitou receber 500 pessoas, a Espanha só 35 e Portugal 15.

“A UE falhou miseravelmente no seu objectivo de dar um abrigo seguro a refugiados que perderam tudo à excepção da sua vida. O número dos que estão dispostos a realojar é verdadeiramente patético. No seu conjunto, os líderes europeus deveriam ter vergonha na cara”, acusa o secretário-geral da Amnistia, Salil Shetty, num comunicado divulgado nesta sexta-feira.

A organização sublinha o alerta feito na semana passada pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) sobre a “rápida deterioração” das condições em que vivem as centenas de milhares de refugiados no Líbano, Jordânia e Turquia. À sobrelotação dos campos, à escassez de serviços de saúde e educação disponíveis para os refugiados junta-se agora o Inverno rigoroso que, nos últimos dias, cobriu de neve várias regiões do Líbano onde milhares de pessoas vivem em tendas ou barracas – quinta-feira, duas crianças morreram de hipotermia.

Arriscar a vida
As portas fechadas não impedem milhares de sírios de chegarem pelos seus próprios meios à Europa: desde o início da guerra, em 2011, 55 mil sírios pediram asilo na UE, quase metade dos quais na Suécia, o primeiro país a oferecer direito de residência permanente aos refugiados, e cerca de 16 mil na Alemanha. Mas leva a que muitos arrisquem a vida para chegar ao continente, diz a Amnistia, lembrando que até Outubro dez mil sírios chegaram de barco às costas italianas e que durante o Verão 650 pessoas morreram afogadas no Mediterrâneo, muitas das quais eram oriundas da Síria.

A organização de defesa dos direitos humanos denuncia ainda que há refugiados sírios que foram mandados para trás pela guarda costeira grega e relatos de outros que foram maltratados pelas autoridades quando chegaram a território grego. Na Bulgária, onde desde o início do ano chegaram cinco mil sírios, há pessoas a viver em centros de acolhimento fechados – o que a Amnistia equipara a centros de detenção – e outros a viver em abrigos precários e sem quaisquer condições sanitárias.

“Dezenas de milhares de pessoas arriscaram a vida em viagens perigosas, por barco ou por terra, para chegar à Europa. Centenas perderam a vida no Mediterrâneo. É lamentável que muitos deles tenham arriscado a vida para chegar aqui e sejam forçados a voltar para trás ou vivam em condições esquálidas, com comida, água e tratamentos médicos insuficientes”, denuncia Shetty, considerando “lamentável o tratamento” dado aos refugiados nestes dois países de entrada na "fortaleza europeia".

A imprensa britânica sublinha que o Reino Unido está entre os 18 países que não se disponibilizaram a realojar qualquer refugiado, uma recusa reafirmada à BBC e ao Guardian por um porta-voz do Ministério do Interior, explicando que Londres se concentra na ajuda aos refugiados que permanecem na região. “Somos um dos maiores doadores internacionais no auxílio aos sírios – as promessas de 500 milhões de libras que fizemos até agora são superiores ao total do conjunto feito pelos restantes Estados-membros."

Responsáveis da UE disseram também à BBC que a sua prioridade é ajudar os cerca de 6,5 milhões de sírios que estão deslocados dentro de fronteiras e os países vizinhos. Ao todo, argumentam, a ajuda da UE às vítimas do conflito na Síria atinge já 1300 milhões de euros. A Comissão Europeia propôs também uma ajuda de seis mil euros por cada refugiado realojado num país-membro, uma proposta que deverá ser avaliada numa cimeira prevista para 19 de Dezembro, adianta a BBC. 
 
 
 
 
 

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