Ex-secretário de Estado critica postura de Portugal sobre apartheid

João Cravinho considera que Governo de Cavaco Silva cometeu "um erro de política externa". PSD recorda que Mandela compreendeu comportamento de Portugal.

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Cavaco Silva afirmou estar "descontraído" com o actual cenário político em Portugal ENRIC VIVES RUBIO

O antigo secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros João Gomes Cravinho (PS) afirma que Portugal abdicou de tomar uma posição contra o apartheid na África do Sul, no que considera "um erro da política externa portuguesa". O PSD já veio defender a posição do Estado português no final dos anos 1980.

Num texto publicado na sua página pessoal no Facebook, João Gomes Cravinho, actualmente embaixador da União Europeia na Índia, critica a postura de Portugal por, no final da década de 1980, se ter colocado ao lado dos Estados Unidos e do Reino Unido, enquanto o resto da Europa e várias dezenas de países de todo o mundo condenavam o apartheid.

PCP e Bloco de Esquerda criticaram no Parlamento que Portugal tenha votado em 1987 – quando Cavaco Silva era primeiro-ministro – contra uma resolução das Nações Unidas que pedia, entre outros pontos, a libertação de Nelson Mandela, uma posição que Cavaco Silva já justificou com a recusa da luta armada.

Na opinião do ex-secretário de Estado dos governos de José Sócrates, as posições portuguesas eram então "essencialmente ditadas por meia dúzia de 'comendadores' da comunidade portuguesa, fortemente apoiados por Alberto João Jardim", que faziam chegar a Lisboa "a necessidade de apoiar diplomaticamente o regime do apartheid".

"É assim que Portugal se vê, nos anos 80, numa posição de alinhamento com as posições de Reagan e Thatcher, destoando da forma como na Europa e em quase todo o mundo se olhava para o regime do apartheid. Foi claramente um erro da política externa portuguesa, porque, em vez de preparar a comunidade portuguesa para a transição, encorajou-a a manter-se numa posição de defesa intransigente do regime", considera Cravinho.

Num texto em que, como afirmou esta segunda-feira à Lusa, não pretende "criar polémicas", o ex-governante socialista sustenta que "a mudança chegou muitíssimo tarde, quase em cima do colapso do regime", após a chegada do novo embaixador da África do Sul, José Cutileiro.

Perante as críticas lançadas a Cavaco Silva pelos partidos mais à esquerda, o PSD saiu em defesa do Presidente da República. António Rodrigues, vice-presidente da bancada do PSD, afirmou que "o Governo português votou contra a resolução que falava de violência armada, que também incluía a libertação de Mandela, e votou a favor da libertação na situação em que se verificava a libertação pacífica do regime". 

"[Mandela] Ele próprio reconheceu e esteve com o primeiro-ministro na altura, hoje Presidente da República, e assumiu que Portugal tinha tido um comportamento adequado relativamente ao apoio político à sua luta", disse.
 
 
 

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