Ex-chefes de Estado da Ucrânia solidarizam-se com os protestos

Primeiro-ministro russo recebe delegação ucraniana e avisa que é preciso garantir a ordem e estabilidade.

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Manifestantes barricaram-se na Praça da Independência REUTERS/Gleb Garanich

Os três antigos presidentes da Ucrânia manifestaram a sua preocupação com a deriva antieuropeia do Governo de Kiev e declararam o seu apoio às exigências dos milhares de manifestantes que voltaram a desafiar as ordens das autoridades, cercando edifícios governamentais em protesto contra a suspensão das negociações para a assinatura de um pacto comercial e político com Bruxelas.

“Exprimimos a nossa solidariedade com as acções pacíficas de centenas de milhares de jovens ucranianos. A crise política profunda que se vive na Ucrânia arrisca-se a trazer consequências graves para a integridade territorial, a soberania nacional e a independência”, escreveram Leonid Kravchuk, Leonid Kuchma e Viktor Iuchenko, os três chefes de Estado desde a independência da União Soviética, numa carta aberta.

Pelo quarto consecutivo, a Praça da Independência em Kiev foi o centro dos protestos: isolada com barricadas, converteu-se num grande acampamento, com os manifestantes a receber cobertores e mantimentos enviados por restaurantes solidários com a luta. Todos os dias chegam à capital centenas de jovens que se juntam ao protesto – e que seguem em directo os últimos desenvolvimentos políticos, através de um ecrã gigante instalado na praça para transmitir os noticiários.

O primeiro-ministro, Mikola Azarov, confirmou a abertura do executivo ao “diálogo responsável” e ao compromisso com as forças da oposição. Mas frisou que “as decisões devem ser tomadas num ambiente de calma, não na rua”.

E, apesar do tom conciliatório, Azarov deixou no ar algumas ameaças – umas veladas, como a de um eventual corte de financiamento para as regiões que avançarem com greves, e outras bem mais concretas. “Certas forças políticas estão a conduzir os protestos para a violência e a ocupação ilegal de edifícios institucionais, impedindo as funções do Estado. Esses são actos ilegais e criminosos e não ficarão impunes”, sublinhou. “Alguns líderes políticos vão esconder-se atrás da imunidade parlamentar, mas vocês não terão onde se esquecer”, avisou, dirigindo-se aos manifestantes.

Da Rússia veio um outro alerta. “É muito importante haver ordem e estabilidade na Ucrânia”, assinalou o primeiro-ministro, Dmitri Medvedev, que esteve reunido com uma delegação ucraniana que viajou até Moscovo com o objectivo de negociar os preços para a importação de gás natural russo e também uma ajuda financeira que previna uma crise na balança de pagamentos do país.

O Presidente russo, Vladimir Putin, tinha ameaçado com a suspensão dos acordos comerciais e outras sanções financeiras, se a Ucrânia firmasse um pacto com a União Europeia. Mas de visita a Kiev o chefe da diplomacia alemã, Guido Westerwelle, garantiu que ainda há tempo para um novo volte-face. “As propostas mantêm-se válidas e as portas da União Europeia permanecem abertas” para a Ucrânia, declarou.
 
 

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