Do pequeno-almoço às revoltas árabes

O Twitter foi evoluindo à medida que os utilizadores encontraram novos usos e novas formas de expressão na plataforma.

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Um graffiti na praça Tahrir, no Egipto, em 2011 Steve Crisp/reuters

A evolução do Twitter ao longo dos últimos sete anos e meio foi em boa parte determinada pelos utilizadores. Foram estes que criaram as chamadas hashtags – palavras precedidas do símbolo cardinal (#) e que normalmente servem para identificar o tema de uma mensagem, tornando-a mais facilmente pesquisável e permitindo agrupar as mensagens sobre o mesmo tema. Foi só depois de os utilizadores recorreram a hashtags que o Twitter as incorporou oficialmente.

Este é só um exemplo. Quando os fundadores lançaram o Twitter, em Março de 2006, a ideia parecia ser mais a de partilhar o quotidiano do que a de servir de ferramenta de comunicação durante as revoltas árabes.

O Twitter nasceu dentro de uma empresa chamada Odeo, com sede na Califórnia, e que oferecia um serviço para criação e partilha de podcasts. Tinha sido criada por um dos responsáveis do Blogger, Evan Williams, e por um programador chamado Noah Glass. Da equipa de lançamento da Odeo fazia ainda parte Biz Stone, que também trabalhara no Blogger. Os três são fundadores do Twitter, embora só dois tenham lucrado milhões com a entrada em bolsa.

Entre os fundadores está ainda Jack Dorsey, um programador contratado por Glass para trabalhar na Odeo e que terá sido, pelo menos em parte, o responsável pela ideia de criar um serviço de mensagens curtas online. Um livro recente do jornalista do New York Times Nick Bilton, cujas afirmações não foram refutadas, narra como Dorsey e Glass tiveram a ideia para criar o serviço, mas, em lutas de poder e protagonismo, Dorsey terá conseguido afastar Glass do projecto (na sua conta no Twitter, Glass tem a seguinte linha biográfica: “eu comecei isto”; a sua última mensagem, de 14 de Setembro, deseja boa sorte à equipa do Twitter na oferta de venda inicial).

#linguagemprópria
O Twitter foi durante os primeiros anos descrito sobretudo como um serviço de microblogging, uma ferramenta para partilhar, no máximo em 140 caracteres, pequenos apontamentos do quotidiano. Com frequência, foi sobranceiramente definido como um espaço para contar ao mundo o que se comeu ao pequeno-almoço.

Os utilizadores, entretanto, foram moldando o Twitter. Conversavam, recorrendo ao símbolo arroba (@) para identificar outros utilizadores. Foi emergindo uma linguagem própria: “RT” é usado para identificar os retweets, ou seja, a republicação de uma mensagem de outro utilizador (só quando a prática já estava difundida, a empresa criou um botão para esta funcionalidade); o menos comum “MT” significa modified tweet e é usado quando alguém copia a mensagem de outro, mas a modifica, frequentemente para conseguir que esta caiba no limite de 140 caracteres.

Já as hashtags ultrapassaram a sua função inicial e são agora usadas também como uma forma de expressão própria. Escrever #fail tornou-se uma forma frequente de criticar algo, e não apenas no Twitter.

Em 2009, e reflectindo a utilização que os membros da rede social faziam, a primeira página do site deixou de mostrar a pergunta “O que está a fazer?”, substituindo-a por “O que se está a passar?”. Já então a ferramenta era usada para difundir notícias e demais conteúdo dos media. Actualmente, muitos órgãos de comunicação social – PÚBLICO incluído – têm presença activa na plataforma.

Hoje, a primeira página do Twitter já não faz uma pergunta. Em vez disso, lê-se: “Inicie uma conversa, explore seus interesses e mantenha-se informado” (na versão em português do Brasil, o único que o Twitter usa).

O Twitter acabou por ter um papel em vários acontecimentos internacionais (embora nem sempre tão grande quanto os mais entusiastas afirmaram). Um dos casos mais mediatizados foi o da revolução no Egipto, em 2001, na qual, a par com outras redes sociais, foi usado para espalhar informação sobre as manifestações e outros acontecimentos, tanto para os cidadãos do país, como para os media estrangeiros. Mais recentemente, a organização que ganhou o Nobel da Paz foi contactada por Twitter, depois de o tradicional telefonema ter falhado.

Em Portugal, onde o Twitter (como no resto do mundo) tem muito menos popularidade do que o Facebook, a plataforma é usada por políticos, figuras públicas e jornalistas. É frequente ver deputados no Twitter a escreverem comentários ou partilharem notícias favoráveis ao partido por que foram eleitos. Em alguns casos, há diálogo entre estas figuras públicas e os restantes utilizadores.

O Twitter não divulga dados especificamente para cada país. Em todo o mundo, tem cerca de 215 milhões de utilizadores mensais. Nesta quinta-feira, estreou-se em bolsa, onde as acções dispararam assim que começaram a ser transaccionadas.
 

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