Brasil tem de proteger Snowden se quiser mais informações sobre espionagem dos EUA

Jornalista norte-americano Glenn Greenwald ouvido na Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado brasileiro.

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Greenwald explicou que não pode revelar informações às autoridades brasileiras Evaristo Sá/AFP

Se o Brasil quiser mais informações sobre os programas de espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA) norte-americana, terá de conceder asilo político ao antigo analista informático Edward Snowden, afirmou o jornalista Glenn Greenwald perante a Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado brasileiro.

"Se o governo quer informações, deve protegê-lo, para que ele tenha liberdade para trabalhar. Ele está muito limitado para falar e corre o risco de os Estados Unidos o capturarem", disse o jornalista, que vive no Rio de Janeiro.

Entre os documentos recolhidos por Edward Snowden nos tempos em que trabalhou para a NSA estão informações de espionagem de comunicações da empresa Petrobras, da Presidente Dilma Rousseff e do Ministério de Minas e Energias.

"Temos agora várias provas de que o programa de espionagem [dos EUA] não é sobre terrorismo. É sobre o aumento do poder do governo americano", principalmente na esfera da economia, disse Greenwald.

Pressionado pelos membros da comissão do Senado brasileiro a revelar mais informações sobre os programas de espionagem que dizem respeito ao país, o jornalista norte-americano respondeu que "se um governo quer mesmo defender a privacidade dos dados e a liberdade de imprensa, deve proteger Snowden".

"Há muitos países a dizer 'Ainda bem que estamos a receber todas estas informações', mas quase ninguém quer proteger a pessoa responsável pelo facto de o mundo as ter descoberto", criticou Glenn Greenwald, que tem escrito sobre os documentos da NSA no jornal britânico The Guardian e colaborado com o brasileiro O Globo.

O companheiro de Greenwald, o brasileiro David Miranda que foi detido pela polícia britânica no aeroporto de Heathrow, em Agosto , também esteve presente na comissão do Senado. Miranda explicou que Greenwald não pode divulgar informações ao Governo brasileiro porque isso iria ser considerado pelos EUA como um "acto de traição", pelo que não poderia voltar a entrar no país.

"Se ele tem informações para mais de um ano, pode não saber o que é. Agora, essas informações que ele tem são informações que levam à prática de crimes. Queria saber se esse material pode ficar sob a guarda do Senado. Temos uma sala com segurança", perguntou o senador Pedro Taques (PDT-MT).

"Estaremos entregando um documento dos Estados Unidos ao governo de outro país, e isso seria traição. Temos informações de muitos países", respondeu David Miranda.

Para além disso, explicou Glenn Greenwald, deve haver sempre uma clara distinção entre a acção dos governos e o jornalismo.

As autoridades brasileiras nunca aceitaram analisar o pedido de asilo de Edward Snowden, pelo que não existe ainda uma recusa oficial.

Pai de Snowden na Rússia
Na mesma audição, o jornalista norte-americano disse que a situação de Edward Snowden na Rússia é "difícil" e afirmou que mantém contacto com o antigo analista "várias vezes por semana".

A partir desta quinta-feira, Snowden poderá sentir-se menos sozinho o seu pai, Lon Snowden, já chegou a Moscovo, onde foi recebido pelo advogado Anatoli Kucherena.

Em declarações à agência russa Interfax, Lon Snowden disse não querer falar de "aspectos jurídicos". "O que quero é que o meu filho esteja seguro e em liberdade", disse, lamentando não ter a certeza de que Edward poderá algum dia regressar aos Estados Unidos.

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