Vice-presidente do Quénia autorizado a deixar TPI para resolver ataque em Nairobi

Nova troca de tiros no centro comercial de Nairobi. William Ruto deixa Haia durante uma semana para gerir crise no Quénia.

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As tropas quenianas tentam neutralizar o comando CARL DE SOUZA/AFP

O Tribunal Penal Internacional (TPI) autorizou o vice-presidente do Quénia, William Ruto, a suspender durante uma semana o processo onde é acusado de crimes contra a humanidade, para que o governante possa voltar ao seu país para gerir a crise desencadeada pelo ataque a um centro comercial de Nairobi.

A decisão foi anunciada numa audiência pública na sede do TPI, em Haia (Holanda). “Dadas as circunstâncias”, o tribunal decidiu interromper o processo durante “uma semana apenas”, mas o advogado de Ruto, Karim Khan, disse que iria pedir mais tempo. Para já, William Ruto poderá deixar a Holanda por alguns dias, tendo já viagem de avião marcada para regressar ao Quénia.

Com o Presidente Uhuru Kenyatta, Ruto é acusado de crimes contra a humanidade cometidos na vaga de violência que se seguiu às presidenciais de 2007.

Em Nairobi, onde um centro comercial foi atacado por um grupo terrorista islâmico no sábado, “a maioria” dos cerca de 30 reféns que estavam dentro do edifício no domingo à noite foi resgatada pelas forças de segurança. Na manhã desta segunda-feira, voltaram a ouvir-se tiros e explosões, segundo os jornalistas da AFP presentes no local.

Pelo menos 68 pessoas morreram e mais de 170 foram atingidos por balas durante o ataque, que começou no sábado ao meio-dia (hora local) e continuava por resolver mais de 40 horas depois. Um oficial militar ouvido pela BBC disse ser possível que sejam encontradas mais vítimas mortais quando as autoridades inspeccionarem todo o edifício.

As forças armadas já controlam a maior parte do edifício, onde as autoridades tentavam esta manhã neutralizar o comando. A informação mais recente divulgada na conta do Twitter das Forças de Defesa do Quénia, cerca das 21h30 de ontem (menos duas horas em Portugal continental), dava conta de que as autoridades estavam a fazer “todos os esforços” para chegar a uma “conclusão rápida” do caso.

“Vamos punir rapidamente e severamente os organizadores. Devem pagar pelos seus actos ignóbeis e animalescos”, prometeu no domingo à tarde o Presidente Uhuru Kenyatta, sugerindo querer ir até à origem da ordem do ataque, ao comando da Al-Shabab na Somália.

Numa declaração áudio, que a AFP cita, o porta-voz do comando, Sheikh Ali Mohamud Rage, ameaçava ordenar a morte dos últimos reféns, face àquilo que dizia ser a “pressão” das forças de segurança do Quénia e os aliados “cristãos”. O ataque de sábado foi reivindicado — primeiro no Twitter, depois através da estação de televisão Al-Jazira — pela Al-Shabab, a organização armada islamista que actua na Somália (onde controla extensos territórios) mas tem feito incursões no Quénia. Tropas do Quénia participam na missão da União Africana na Somália e o Governo de Nairobi tem patrulhas em território somali que tentam evitar a progressão da Al-Shabab.

De acordo com a AFP, elementos das forças especiais israelitas estavam dentro do edifício a ajudar as tropas na operação. O centro comercial, propriedade de uma empresa israelita, já fora considerado pelos Estados Unidos uma zona de risco, por ser o local de encontro da comunidade de diplomatas na capital queniana.

Um sobrinho do Presidente estava no edifício com a noiva quando o ataque começou, no sábado ao meio-dia (hora local), com o Westgate Mall apinhado — morreram ambos.

Ao segundo dia, a nacionalidade de alguns mortos foi sendo conhecida. Em Londres, William Haugue, responsável pela diplomacia do Reino Unido, disse que três são britânicos. “Receamos que possam ser mais”, disse. Paris confirmou dois mortos — duas pessoas executadas no parque de estacionamento. O Canadá disse que um dos seus diplomatas morreu. A ONU deu conta de um morto, um médico peruano ao serviço da Unicef. E em Acra (Gana), o Governo anunciou a morte de um dos seus principais poetas (e também diplomata), Kofi Awoonor, que estava em Nairobi para participar num festival literário.
 
 
 

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