China registou aquele que será o primeiro caso de transmissão humana do vírus H7N9

Conclusão de estudo após análise de caso de pai e filha registado na China em Março deste ano.

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Até aqui, tudo indicava que a transmisão do vírus era feita por aves Mark RALSTON/AFP

Em Maio, uma investigação feita por cientistas chineses, divulgada pela revista Science, revelava que “o vírus emergente da gripe humana H7N9 é infeccioso e transmissível entre mamíferos”. Até então a possibilidade de ter ocorrido uma transmissão humana não tinha sido confirmada.

Esta quarta-feira, o British Medical Journal avança que no caso registado em Março, na China, a transmissão do H7N9 terá sido feita do pai, que esteve em contacto com aves num mercado, para a filha, que apesar de não ter estado próximo destes animais contraiu o vírus. Isso só terá sido possível por ter estado exposta ao H7N9 que tinha infectado o pai, um homem com 60 anos e com um historial de hipertensão.

O homem manifestou os primeiros sinais da doença – febre, tosse e dificuldades respiratórias – seis dias depois de ter estado em contacto com as aves. Durante todo esse período e enquanto esteve hospitalizado, desde o dia 11 de Março, a sua filha esteve sempre presente e sem qualquer protecção contra uma possível infecção. Seis dias após ter tido o último contacto com o pai, a mulher, de 32 anos, desenvolveu os mesmos sintomas atribuídos ao H7N9. Foi internada a 24 de Março.

A doente morreu a 24 de Abril devido a uma falha múltipla de órgãos, a mesma explicação para a morte do pai, dez dias depois.

Análises realizadas às duas vítimas revelaram duas estirpes do vírus geneticamente quase idênticas. Quarenta e três pessoas que tiveram contacto directo com ambos foram também analisadas. Apenas uma delas revelou sinais de uma infecção ligeira mas sem a presença do vírus H7N9.

“Estas descobertas sugerem que o potencial da sustentabilidade genética pode ser um dos determinantes e que o vírus da gripe aviária, como o H5N1, são mais facilmente transmitidos entre indivíduos com uma ligação genética”, assume a investigação divulgada esta quarta-feira.

A equipa de cientistas chineses conclui, assim, que “a infecção da filha resultou provavelmente do contacto com o pai durante uma exposição desprotegida, o que sugere que neste grupo o vírus conseguiu transmitir-se de pessoa para pessoa”. O relatório sublinha, no entanto, que a “transmissibilidade [do vírus] é limitada e não-sustentável”, já que não houve um surto após os primeiros casos reportados.

“Ameaça do H7N9 ainda não passou”
Num editorial que acompanha a investigação, James Rudge e Richard Coker, da London School of Hygiene and Tropical Medicine, consideram que esta descoberta não significa que o H7N9 esteja mais perto de se adaptar totalmente aos humanos.

A dupla realça que o número de casos de infecção pelo vírus “caiu abruptamente desde Abril, sem casos registados durante várias semanas” apesar de existir a possibilidade de o vírus ressurgir no Outono. O estudo da equipa chinesa “pode não sugerir que o H7N9 não está perto de se tornar na próxima pandemia” mas alerta para a “necessidade de permanecermos extremamente vigilantes: a ameaça que o H7N9 apresenta não passou e todo”, acrescentam.

O novo vírus da gripe das aves surgiu em Março, em Xangai. Em pouco mais de um mês, alastrou para outras regiões da China, infectando, segundo os dados da Organização Mundial da Saúde, mais de 130 pessoas, das quais 37 morreram. Desde Abril, não houve registo de novos casos.

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