Milhões de pessoas sem energia e sem poder sair de casa, automóveis, aviões e comboios parados, serviços públicos encerrados, comércio de porta fechada: o Nordeste dos Estados Unidos e a costa leste do Canadá ficaram este sábado paralisados comde uma brutal tempestade que deixou vastas áreas “soterradas” em quase um metro de neve e provocou a morte de pelo menos seis pessoas.

O estado do Massachusetts esteva no centro da tempestade, e ao governador só faltou decretar o estado de sítio. Deval Patrick ordenou o encerramento de todas as estradas e aeroportos e proibiu todas as deslocações não essenciais: os condutores que desrespeitassem a proibição e fossem interceptados em qualquer seriam sujeitos a multa e poderiam mesmo receber ordem de prisão.

A última vez que a circulação automóvel foi totalmente banida no estado remonta a 1978, quando outro nevão histórico matou 99 pessoas e destruiu mais de 2000 habitações. Apesar da dimensão da tempestade de ontem, a queda de neve ficou alguns centímetros abaixo dos máximos de Fevereiro de 2003 e 2011.

“Esta é uma tempestade de enormes proporções. Não saiam de casa”, repetiu o mayor da cidade de Boston. Da noite para o dia, a maior cidade do Massachusetts transformou-se num inóspito deserto branco. A circulação de autocarros, do metropolitano e de comboios suburbanos fora interrompida logo na tarde de sexta-feira e todos os funcionários públicos tiveram tolerância para ficar em casa. Poucas lojas e restaurantes arriscaram abrir as portas e o correio não foi distribuído.

A deterioração das condições durante o dia obrigou à evacuação de uma série de localidades na linha de costa no sul do Massachussetts, fustigadas por vento fortes e pelas marés que aumentavam exponencialmente o risco de inundação. Em Cape Cod, uma conhecida estância de veraneio, as rajadas de vento ultrapassaram os 130 quilómetros por hora.     

De acordo com a AFP, uma mulher que conduzia um veículo numa auto-estrada de Nova Iorque perdeu o controlo do carro devido à neve e acabou por atropelar mortalmente um homem de 74 anos, que seguia a pé.

Mais de 650 mil clientes perderam a electricidade, a maior parte deles no Massachusetts (onde por precaução foi suspensa a actividade de uma central nuclear) e Rhode Island. As diversas companhias assinalaram dificuldades que sentiam para o restabelecimento do serviço — as estradas intransitáveis impediam o acesso aos locais onde os postes estavam caídos, e a neve e o vento impediam as equipas de emergência de trabalhar com mais celeridade.

A cidade esteve de prevenção máxima — “Temos mais de 250 mil toneladas de sal, 350 limpa-neves e 1800 veículos de limpeza prontos para entrar em acção”, informou o mayor Michael Bloomberg — mas acabou por sobreviver relativamente incólume à tempestade. O Central Park, em Manhattan, registou temperaturas negativas e uma camada de neve de 30 centímetros, mas as condições não impediram a população de se divertir em segurança. “Tivemos sorte. Acho que estamos em boa forma”, resumiu Bloomberg.     

Em Nova Iorque, a tempestade dificultou a vida aos organizadores da New York Fashion Week, que ia realizar-se numa enorme tenda montada no exterior. Para minimizar os efeitos do mau tempo, foi accionado um “batalhão” de limpadores de neve e reforçada a tenda.