UE e Rússia trocam acusações sobre interferências na Ucrânia

Cimeira euro-russa em Bruxelas foi reduzida a apenas três horas. A crise política em Kiev dominou os trabalhos.

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Líderes europeus receberam Putin em Bruxelas REUTERS/Yves Herman

A tensão das últimas semanas entre a União Europeia (UE) e a Rússia por causa da situação na Ucrânia dominou uma mini-cimeira entre os dirigentes dos dois blocos que decorreu nesta terça-feira, em Bruxelas, com cada lado a acusar o outro de interferência nas questões internas de Kiev.

A provar o estado particularmente delicado das relações entre os dirigentes da Comissão Europeia e do Conselho Europeu, Durão Barroso e Herman Van Rompuy, de um lado, e o Presidente russo Vladimir Putin, do outro, esteve a redução da duração das conversações a apenas três horas, com almoço incluído, em vez dos habituais dois dias das cimeiras semestrais euro-russas. Mesmo assim, o encontro permitiu aos intervenientes "dizer coisas que às vezes não dizemos", afirmou Barroso no final da cimeira, citando Dostoievski.

Embora a cimeira tivesse na agenda sobretudo os habituais temas bilaterais de discórdia, como as regras energéticas da UE que Moscovo considera discriminatórias para o seu conglomerado Gazprom, ou as taxas exigidas por Moscovo para o sobrevoo da Sibéria, foi a Ucrânia que dominou os trabalhos.

A tensão entre os dois blocos tem vindo a crescer desde que Moscovo pressionou o presidente da Ucrânia, Viktor Ianukovich, a denunciar, em Novembro passado, um acordo de associação política e comercial  com a UE e virar-se para a Rússia, um gesto que os europeus interpretaram como uma tentativa dos russos de preservar a sua zona de influência.

Putin acusou sem rodeios a UE de estar a complicar a situação na Ucrânia ao interferir no conflito que separa o Governo e a oposição. "Tenho a certeza de que o povo ucraniano vai resolver (a crise) por si mesmo" e "não creio que a Ucrânia precise de intermediários, quando mais intermediários houver, maiores problemas haverá", afirmou.

O Presidente russo garantiu igualmente que não há interferências do seu lado, de tal forma que, segundo disse, não vai alterar os acordos já concluídos com Kiev, nomeadamente para um empréstimo de 15 mil milhões de dólares e a venda de gás a preço reduzido, mesmo que o poder mude de mãos.

Os europeus insistiram por seu lado no direito à soberania dos povos da fronteira leste da UE – que "deverão poder decidir o seu próprio caminho", segundo Barroso – e garantiram que o acordo de associação com Kiev, incluído na "parceria oriental" de boas relações com os países vizinhos, não constitui um ataque à Rússia mas uma forma de promover a prosperidade económica e a democracia.

"A parceria não é contra alguém, é algo que só pode beneficiar os nossos parceiros e obviamente que não prejudicará a Rússia", afirmou Barroso. De acordo com o presidente da Comissão, europeus e russos decidiram desenvolver consultas bilaterais ao nível técnico sobre os acordos de associação ligados à parceria oriental para analisar as suas possíveis consequências económicas para os dois lados. "A UE é contra a mentalidade de bloco contra bloco" e acreditamos que "a UE e a Rússia têm tudo a ganhar com uma atitude de cooperação", disse ainda Barroso.

 

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