Tribunal libertou opositor de Putin para concorrer à câmara de Moscovo

Alexei Navalni foi condenado a cinco anos de prisão enquanto apresenta recurso. É uma decisão inédita na Rússia.

Fotogaleria
Navalni à saída da prisão SERGEI BROVKO/AFP
Manifestante presa à porta do tribunal em Kirov
Fotogaleria
Manifestante presa à porta do tribunal em Kirov Reuters
Manifestação em Moscovo a favor de Alexei Navalny
Fotogaleria
Manifestação em Moscovo a favor de Alexei Navalny AFP
Protestos prolongaram-se durante a noite de quinta para sexta-feira
Fotogaleria
Protestos prolongaram-se durante a noite de quinta para sexta-feira Reuters
Protesto em São Petersburgo
Fotogaleria
Protesto em São Petersburgo AFP

Um dia depois de Alexei Navalni – que tem encabeçado vários protestos contra Vladimir Putin e lutado contra a corrupção – ter sido condenado a cinco anos de prisão, um tribunal russo libertou-o temporariamente, para que possa concorrer às eleições para a presidência da câmara de Moscovo, enquanto aguarda o resultado do recurso da sentença.

Alexei Navalni é um blogger que se tornou nos últimos anos a mais destacada figura da oposição. Foi acusado de ter desviado dinheiro. Contudo, sempre disse que este caso se tratava de uma tentativa de o silenciar. Depois de conhecida a sentença, num tribunal de Kirova, vários países, entre eles os EUA, Reino Unido, Alemanha e França manifestaram-se contra a decisão e acusaram a Rússia de retrocesso democrático.

Catherine Ashton, a chefe da diplomacia europeia, congratulou-se com a libertação, mas pediu mais. "O facto de ter sido libertado sob condições específicas é de saudar, mas a forma como todo o processo decorreu só nos permite sublinhar as nossas preocupações".

Esta sexta-feira, um tribunal decidiu libertar Navalni, mas mantê-lo sob vigilância apertada, proibindo que este possa viajar. O advogado sairá de Kirov, a cerca de 900 quilometros a nordeste de Moscovo, para a sua casa na capital. A decisão deve-se a um recurso feito pelo blogger para rever a pena, mas é muito pouco comum, nota a agência Reuters. É reveladora da incerteza do Kremlin sobre a forma como lidar com Navalni, que se tornou popular nas grandes cidades, aqueles que saíram à rua para protestar contra Vladimir Putin. 

A decisão está a ser vista como uma forma de apaziguar os centenas de activistas que se manifestaram em diversas cidades do país, na quinta-feira, depois de conhecida a sentença. Pelo menos 3000 pessoas juntaram-se perto do Kremlin, em Moscovo. Cerca de 200 pessoas foram detidas durante os protestos, noticia a Reuters. Gritavam palavras de ordem como "Vergonha" e "Putin é um ladrão".

De acordo com a lei russa, Navalni tem dez dias para apresentar um pedido de recurso, e o tribunal terá depois um mês para decidir se o aceita ou não. "Compreendemos perfeitamente o que aconteceu. É fenómeno único na justiça russa", disse o líder da oposição, quando foi libertado.

O juiz que ordenou a libertação de Navalni, sob fiança, para concorrer às eleições municipais, considerou que ficava em condições desiguais perante os restantes candidatos e que, ao ficar na prisão, "os seus direitos a ser eleito eram restringidos".

As hipóteses de Navalni ser eleito são, no entanto, remotas. O favorito é o actual presidente da câmara, e que é dado também como um possível primeiro-ministro, Serguei Sobianin.

Alguns analistas ouvidos pela Reuters dizem que há de facto uma divisão no Kremlin relativamente a Navalni, embora o blogger não represente nenhum risco político imediato para o Presidente Putin. "O resultado desta divisão não será pacífico", diz a cientista política Ella Paneyakh. O poder de Putin sempre se baseou na manutenção de um equilíbrio de forças entre os mais conservadores e os mais liberais, mas esse equilíbrio está a dar sinais de rotura, sobretudo após a saída em Maio de Vladislav Surkov, o ex-estratega de Putin.
 
 
 

Sugerir correcção
Comentar