Rússia avisa que recurso à força no Leste da Ucrânia pode iniciar guerra civil

Forças ucranianas detêm 70 manifestantes pró-russos em "operação antiterrorista" na cidade de Kharkov.

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Forças especiais ucranianas guardam a sede do governo regional de Kharkov, no Leste da Ucrânia Olga Ivashchenko/Reuters

A Rússia aconselhou o Governo ucraniano a suspender de imediato os preparativos de uma “operação militar” contra as regiões russófonas do Leste, alertando que “podem desencadear uma guerra civil” no país. Um aviso que chega na mesma altura em que Kiev anuncia estar em curso uma “operação antiterrorista” na cidade de Kharkov contra os manifestantes que, na última madrugada, atacaram um edifício governamental.

“Segundo as nossas informações, unidades das forças do Ministério do Interior e da Guarda Nacional ucraniana estão a ser enviadas para as regiões do sudeste da Ucrânia, nomeadamente Donetsk”, denunciou o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, afirmando que, a par das forças regulares, seguem também “combatentes do grupo armado ilegal Sector Direito”, um grupo ultranacionalista ucraniano que ganhou força durante os protestos em Kiev que levaram à fuga do ex-Presidente Viktor Ianukovich.

“A tarefa que lhes foi confiada é a de esmagar pela força a contestação dos habitantes do sudeste do país contra a política das autoridades de Kiev”, denunciou Lavrov, dizendo ainda ter informações de que nesta operação participam “150 especialistas americanos do grupo militar privado Greystone, que envergam uniformes do grupo Sokol”, filial na Ucrânia de uma empresa de segurança francesa.

Os alertas de Lavrov surgem como uma espécie de resposta às denúncias do Governo ucraniano que, na segunda-feira, afirmou que a tomada de edifícios no Leste da Ucrânia por grupos pró-russos representa “a segunda fase de um plano de desestabilização da Rússia” com vista a desmembrar o país. Num artigo para o jornal britânico Guardian, o chefe da diplomacia russa volta a rejeitar as interferências na situação interna da Ucrânia e acusa os países ocidentais de, com as suas denúncias, estarem a “aumentar sem razão a tensão” na região.

Operação antiterrorista em Kharkov
A tensão na Ucrânia aumentou inesperadamente quando grupos de manifestantes pró-russos tomaram, quase em simultâneo, edifícios governamentais nas cidades de Donetsk, Lugansk e Kharkov. Foi nesta última cidade que 70 “separatistas” foram detidos durante a última noite pelas forças especiais ucranianas, anunciou o ministro do Interior, Arsen Avakov, que desde o início da crise se encontra no Leste do país.

Algumas dezenas de pessoas entraram no domingo na sede da administração regional, de onde saíram algumas horas depois após negociações com a polícia. A AFP conta, no entanto, que durante todo o dia de segunda-feira a situação continuou tensa, com centenas de opositores às novas autoridades ucranianas concentrados à porta do edifício. Houve escaramuças com um grupo, mais pequeno, de pró-europeus, e ao início da noite foram lançados vários cocktails Molotov que incendiaram alguns gabinetes no rés-do-chão.

Após estes incidentes, a polícia ucraniana lançou “uma operação antiterrorista que garantiu totalmente a segurança do edifício da administração local” e 70 pessoas foram detidas sob acusação de “actividades ilegais relacionadas com separatismo, organização de distúrbios e atentado à saúde de terceiros”, refere o Ministério do Interior. “Foi lançada uma operação antiterrorista. O centro da cidade está bloqueado, juntamente com as estações de metro. Não tenham medo, assim que terminarmos vão reabrir de novo”, escreveu Avakov na sua página no Facebook.

Um deputado que o acompanha revelou que a operação foi conduzida pelas forças especiais do Ministério do Interior. “Eles estão prontos a intervir no Leste para neutralizar os criminosos”, afirma Nikolai Kniajitski, num aviso claro aos manifestantes, alguns armados, que continuam a ocupar edifícios públicos em Lugansk e Donetsk.

Nesta última cidade, o grupo que se apoderou da sede do governo regional proclamou Donetsk uma “república popular” independente da capital Kiev e anunciou a intenção de realizar um referendo para “a criação de um novo Estado soberano” no dia 11 de Maio.

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