Ressaca de carnaval

No Brasil, as peças do escândalo “Petrolão” estão a cair como as de um dominó. Dia após dia.

Mal os brasileiros punham o pé na avenida e já a justiça do Rio mandava hipotecar o edifício-sede da Petrobras, o símbolo daquela que já foi o orgulho nacional, a maior empresa do país, uma das maiores do mundo. A hipoteca foi solicitada pela Refinaria de Manguinhos que processa a estatal brasileira para garantir o pagamento de uma dívida de 935 milhões de reais (290 milhões de euros). Em nota enviada ao jornal O Globo na última sexta-feira, a Petrobras afirmava que iria recorrer assim que fosse intimada e que “não se podia falar ainda em dívida muito menos em possibilidade de calote”.

Mas é justamente a falta de pagamento que fez com que cinco estaleiros deixassem de receber mil milhões e meio de reais (cerca 465 milhões de euros) da empresa Sete Brasil, criada para construir as sondas do Pré-Sal. Não pagou porque não recebeu da Petrobras. As demissões na indústria naval já começaram. A Petrobras é responsável por 70 a 80 por cento das encomendas, noticiava o jornal Estado de São Paulo, no domingo de carnaval, e o temor agora é que, sem novos contratos, mais 50 estaleiros em todo o país comecem com demissões, provocando um colapso no sector naval. As peças do escândalo “Petrolão” estão a cair como as de um dominó. Dia após dia.

O edifício-sede da Petrobras na Avenida Chile, uma das principais do centro do Rio de Janeiro, é uma gigantesca estrutura formada por imensos cubos separados por espaços vazios onde estão os chamados “jardins suspensos”. Mas hoje é todo o Brasil está em suspenso, sem saber as reais consequências políticas e económicas da grande incógnita que é o “Petrolão” e suas ramificações. Quem vê as imagens contagiantes do carnaval não se engane. Os brasileiros estão apreensivos, preocupados, temerosos: quanto é afinal o prejuízo? Quem beneficiou de todo este esquema? Onde vai acabar o escândalo e como? Há ainda uma pergunta que raramente é feita e que os portugueses conhecem na pele: quanto estarão os bancos expostos à situação da Petrobras? As respostas, infelizmente, não virão com a quarta-feira de cinzas.

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