Rajoy garante que nunca recebeu “dinheiro negro”

Primeiro-ministro espanhol vai tornar pública a declaração de rendimentos para negar a existência de um sistema de contabilidade paralela no PP.

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Rajoy disse que não foi para a política "para ganhar dinheiro" Susana Vera/REUTERS

O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, negou neste sábado ter recebido dinheiro “por baixo da mesa” e anunciou que vai tornar pública a declaração de rendimentos, respondendo assim às notícias do jornal El País que o colocam numa lista de beneficiários de pagamentos ocultos, não declarados ao fisco.

“Nunca recebi nem distribuí dinheiro negro [o que os espanhóis chamam ao dinheiro pago 'à parte' para não ser sujeito a impostos]. Nem neste partido, nem em nenhum sítio”, disse numa declaração lida perante a direcção do Partido Popular, de direita, do qual ele é presidente. “É falso.”

Foram estas as primeiras explicações do chefe do Governo sobre registos contabilísticos de Luis Bárcenas, ex-tesoureiro do PP, que começaram a ser publicadas pelo El País na quarta-feira. O jornal reproduziu vários documentos contabilísticos que alegadamente provam que terá havido uma contabilidade paralela no Partido Popular. Durante duas décadas isso permitiu aos dirigentes beneficiar de dinheiro recebido de donativos empresariais ilegais.

Rajoy insistiu em qualificar como “infâmias” as acusações de corrupção de que toda a cúpula do seu partido está a ser alvo desde que Bárcenas começou a ser alvo de investigação no chamado "caso Gürtell", uma extensa trama de corrupção e enriquecimento ilícito que envolveu comunidades autonómicas governadas pelo PP. “Ganhava mais dinheiro na minha profissão do que ganho na política. Não vim para a política para ganhar dinheiro”, disse Rajoy.

Os documentos do ex-tesoureiro do PP mostram que Rajoy terá recebido, desde 1997, cerca de 25 mil euros por ano, para além do seu salário oficial. Na lista de Bárcenas surgem também, entre outros, os nomes de Rodrigo Rato, Jaime Mayor Oreja, Francisco Álvarez-Cascos, Javier Arenas, Ángel Acebes e Dolores de Cospedal, actual secretária-geral do PP.

Na contabilidade secreta, para além dos pagamentos à cúpula do partido, surgem ainda referências a “doações” feitas por empresários, na sua maioria ligados à construção civil. Era deste dinheiro que entrava na contabilidade paralela do PP que saíam os pagamentos extra aos dirigentes.

O Partido Popular tem tentando passar a ideia de que existiria um sistema para pagar despesas de representação aos líderes do partido, mas que seria declarado às finanças. E vários pesos-pesados da liderança partidária contestaram a veracidade das listas manuscritas que o El País tem vindo a publicar.

Na edição deste sábado, e para reforçar ainda mais a veracidade das listas de contabilidade paralela, o El País divulga um apontamento da contabilidade de Bárcenas que mostra o registo de uma soma de 21 milhões de pesetas do PP da Galiza que foi registado como “pagamento”. 

Noutro documento da Junta da Galiza, já na posse da Justiça espanhola, aparece exactamente a mesma soma como "pagamento de dívidas pendentes" à "sede nacional". O dia da "saída " e "entrada" deste dinheiro é o mesmo: 5 de Maio de 1999. As investigações judiciais também deram como provado que os 21 milhões de pesetas não foram declarados ao fisco.

Na sua declaração, transmitida por televisão para uma sala de imprensa apinhada de jornalistas na sede do PP, Rajoy rematou: “Se alguém pensa que este partido pode ser amedrontado com técnicas de agitação, está enganado. Este partido vai defender-se. Lamento os danos que estão a causar à Espanha, mas esses danos são os únicos que vão conseguir infligir, porque não vão evitar que se saiba a verdade e não vão conseguir que o Governo abandone o seu compromisso e a sua tarefa.”


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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