Quando os EUA se tornaram o "Grande Satã"

Na manhã de 4 de Novembro de 1979, um grupo de estudantes iranianos desviou-se do percurso original de uma das muitas manifestações que diariamente se realizavam em Teerão e dirigiu-se para a Embaixada dos Estados Unidos. Perante o olhar incrédulo dos marines que guardavam esta fortaleza, escalaram os muros do edifício, ocuparam-no e sequestraram 90 diplomatas e outros funcionários que se encontravam no interior.

O drama dos reféns - 52 foram mantidos cativos durante 444 dias - foi abençoado pelo ayatollah Khomeini, fundador da República Islâmica, como "a segunda revolução" (a primeira foi a queda da monarquia). Os EUA foram renegados como "Grande Satã" e a sua embaixada passou a ser chamada de "ninho de espiões".

Os revolucionários justificaram esta "acção de propaganda" como um protesto contra a decisão da Administração de Jimmy Carter de acolher num hospital de Nova Iorque o exilado e moribundo Xá Mohammad Reza Pahlavi. Temiam que a CIA planeasse outro golpe como o de 1953, que derrubou o primeiro-ministro nacionalista Mossadegh e reinstalou o imperador no Trono do Pavão.

A decisão de ocupar a embaixada foi tomada numa reunião da Organização para a Consolidação da Unidade (OCU), rede de estudantes islamistas criada como contrapeso aos rivais marxistas nas universidades. A prova de que os fiéis de Khomeini poderiam ser anti-imperialistas como a esquerda deveria durar apenas "umas horas ou alguns dias, no máximo", explica Kasra Naji, no livro "Ahmadinejad - The Secret History of Iran"s Radical Leader".

Entre os estudantes da OCU que participaram na reunião estava Mahmoud Ahmadinejad, o actual Presidente, que votou contra, porque preferia ocupar a embaixada soviética. A ocupação seria reivindicada em nome dos "Estudantes Seguidores da Linha do Imã". Khomeini, inicialmente relutante, acabou por dar o seu apoio, e só libertou os reféns em Janeiro de 1981 depois de Reagan ter derrotado Carter, que falhara, em Abril de 1980, uma missão de resgate.

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