Presidente Dilma Rousseff surpreendida pela demissão da ministra da Cultura do Brasil

Saída de Marta Suplicy precipitou processo de remodelação do executivo, antes da tomada de posse do segundo Governo Dilma, marcada para 1 de Janeiro de 2015. Críticas à política económica da Presidente no primeiro mandato causam desconforto.

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Marta Suplicy, à direita da Presidente Dilma Rousseff (e do vice-presidente Michel Temer) numa cerimónia em Brasília a 5 de Novembro AFP/Evaristo Sá

Apanhada de surpresa pela demissão da sua ministra da Cultura, a Presidente do Brasil Dilma Rousseff apressou a remodelação governamental que estava prevista acontecer na próxima semana, quando uma exoneração colectiva dos ministros marcaria o arranque do processo de constituição do futuro executivo, que tomará posse no próximo dia 1 de Janeiro de 2015.

De acordo com o jornal Folha de São Paulo, a Casa Civil da presidência “aconselhou” os ministros – que resignariam aos cargos numa cerimónia com Dilma Rousseff marcada para a próxima terça-feira – a manifestar imediatamente a sua disponibilidade para sair do Governo, e assim minimizar o impacto da demissão extemporânea da ministra da Cultura, Marta Suplicy.

A resignação dos ministros no fim do mandato do Governo é uma medida simbólica, que sinaliza a “liberdade” da Presidente, reeleita no passado dia 26 de Outubro para um segundo mandato, na composição da nova equipa do Governo. A demissão de Marta Suplicy já era esperada, mas a publicação da carta na sua página do Facebook, veio precipitar o processo de reformulação em Brasília (além de provocar enorme desconforto nas hostes da Presidente).

Na missiva – que terá chegado ao público antes de ser entregue na mão de Dilma, que está em viagem para participar na cimeira do G20 na Austrália – Suplicy aconselha a Presidente a nomear uma nova “equipa económica independente, experiente e comprovada, que resgate a confiança e credibilidade ao seu Governo e, acima de tudo, esteja comprometida com uma nova agenda de estabilidade e crescimento para o nosso país”.

A escolha do próximo ministro das Finanças brasileiro é um assunto sensível e que tem testado as capacidades políticas de Dilma Rousseff. Durante a conturbada campanha eleitoral, a Presidente anunciou a saída do actual ministro Guido Mantega, num gesto de apaziguamento dos críticos da sua política económica. No seu discurso de vitória, a Presidente prometeu mais diálogo com os principais actores da economia, num sinal imediato de abertura destinado a vencer as resistências do sector.

A indicação do seu substituto é crucial para perceber qual o rumo que Rousseff pretende seguir nos próximos quatro anos: com a economia estagnada, a Presidente sente a pressão do mercado, que desconfia que o prolongamento do modelo intervencionista adoptado nos últimos quatro anos não permita uma retoma do crescimento nem uma solução dos problemas orçamentais do país.

Dilma prometeu anunciar a sua escolha ainda durante o mês de Novembro (a previsão era que o fizesse logo depois de regressar da cimeira do G20). Entre os muitos nomes veiculados pela imprensa como possíveis escolhas, destacam-se Henrique Meirelles, que foi presidente do Banco central durante o Governo de Lula da Silva, e Nelson Barbosa, que foi o secretário executivo do ministério das Finanças.

A divulgação da carta de demissão de Marta Suplicy, e sobretudo o tom ríspido das suas palavras, podem ser considerados como um pequeno acto de vingança política contra Dilma, com quem nunca teve as melhores relações. Suplicy era uma das mais entusiastas líderes do movimento “Volta Lula”, que defendia a recandidatura do ex-sindicalista metalúrgico em vez da chamada “Presidenta”, o que desagradou ao círculo mais restrito de apoio de Dilma e à sua equipa de campanha – que também ressentiu uma alegada falta de empenho da ministra no combate político em defesa do Governo.

Marta Suplicy, uma destacada dirigente do partido dos Trabalhadores (PT) de São Paulo, ocupou os cargos de deputada federal (1995/98), presidente da câmara de São Paulo (2001/04) e ministra do Turismo (2007/08), antes de ser chamada por Dilma em 2012 para substituir Ana de Hollanda no ministério da Cultura. Irá agora para o Senado, para um gabinete contíguo ao do ex-governador e candidato presidencial José Serra, do Partido da Social-Democracia Brasileira.

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