Portugueses vão continuar a não votar nas legislativas do Luxemburgo

Resultados do referendo deste domingo mostram uma clara rejeição da proposta de alargar os direitos de voto aos estrangeiros

Foto
Os partidos de direita lideraram a campnha do "não" ANTHONY DEHEZ/AFP

O "não" ao direito de voto dos imigrantes nas legislativas venceu de forma esmagadora no referendo que se realizou este domingo, no Luxemburgo, com 78% dos votos, frustrando as aspirações de muitos portugueses, que representam 16% da população. Mesmo em Larochette, a "aldeia mais portuguesa do Luxemburgo", a vitória do "não" foi esmagadora.

Apesar da vitória maciça do "não", representantes da comunidade portuguesa consideraram "positiva" a realização do referendo, defendendo que representou "um passo em frente para a mudança de paradigma na sociedade luxemburguesa", disse à Lusa Mirandolina Fernandes, que faz parte da Confederação da Comunidade Portuguesa no Luxemburgo (CCPL).

"Houve brechas que se abriram na sociedade luxemburguesa e nas mentalidades, e as vitórias não se fizeram com uma só batalha", defendeu.

Para a lusodescendente, que chegou ao país em 1967 e tem nacionalidade luxemburguesa desde 1975, a vitória esmagadora do "Não" demonstra "a mentalidade conservadora do país, traumatizado com a ocupação nazi durante a Segunda Guerra Mundial", o que leva a "um sentimento enraizado de ocupação pelos estrangeiros, que são vistos como um perigo para a identidade nacional".

A questão contemplava apenas o direito de votar e não de ser eleito, mas houve partidários do "não" que temiam a formação de partidos de estrangeiros e mesmo a eleição de um primeiro-ministro português.

Um dia antes do referendo, numa carta publicada no Luxemburger Wort, o maior jornal do país, "uma senhora luxemburguesa dizia que não queria um dia vir a ter um chefe de Governo português", lamentou Mirandolina Fernandes.

Alguns partidários do "não" também receavam que o alargamento do direito de voto aos estrangeiros levasse a que "se passasse a falar português nas escolas", uma das objecções invocadas durante um debate com o primeiro-ministro luxemburguês, Xavier Bettel.

O "não" venceu nas três questões sobre as quais os luxemburgueses foram hoje chamados a pronunciar-se, com 78,2% no caso do voto dos estrangeiros, 69,9% para a proposta de limitação de mandatos ministeriais e 80,8% contra a abertura das eleições aos maiores de 16 anos.

O primeiro-ministro luxemburguês reconheceu a derrota do Governo nas três questões. "A mensagem é clara e foi bem percebida", disse Xavier Bettel numa breve alocução, prometendo que o governo  vai respeitar os resultados.

Durante a campanha, que polarizou o país, Xavier Bettel defendeu que "nenhum país no mundo, excepto o Dubai, tem um défice democrático" tão grande como o Luxemburgo, por causa da exclusão dos estrangeiros das eleições nacionais.

Segundo uma sondagem divulgada no início de Maio, a maioria dos luxemburgueses também reconhecia que há um problema no país pelo facto de 46% da população não poder votar em eleições nacionais.

Apesar disso, o "sim" recolheu apenas cerca de 22% cento dos votos, correspondentes a 44 mil eleitores dos cerca de 246 mil inscritos.

Sugerir correcção
Ler 13 comentários