Polícia volta a usar gás lacrimogéneo para dispersar manifestantes na Praça Taksim

Milhares de pessoas fugiram pelas estreitas ruas que vão dar à praça. Governador de Istambul diz que a polícia foi atacada.

Foi a segunda vez que a polícia entrou na praça nesta terça-feira
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Foi a segunda vez que a polícia entrou na praça nesta terça-feira Yannis Behrakis/Reuters
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A polícia anti-motim entrou na Praça Taksim pela segunda vez nesta terça-feira, depois de milhares de pessoas terem tentado regressar ao local ao fim da tarde.

O jornal turco Hurryet escreve que as autoridades colocaram forças de segurança em todas as ruas que vão dar à praça e a CNN Turquia avança que a nova carga policial resultou em ferimentos num número indeterminado de pessoas.

Horas depois da primeira entrada em força, na manhã desta terça-feira, a polícia anti-motim voltou a usar gás lacrimogéneo e canhões de água para manter o controlo da Taksim. Segundo as agências de notícias, milhares de pessoas tiveram de fugir pelas estreitas ruas que saem da praça.

Segundo o governador de Istambul, Hüseyin Avni Mutlu, a polícia foi atacada por "grupos marginais" em frente ao Centro Cultural Ataturk. "Peço aos cidadãos no local que se separem deste grupo marginal e que saiam da praça. É importante que a nossa ordem seja cumprida, para segurança de todos", cita o Hurryet.

Ao início da tarde, o primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, desafiara os manifestantes a desocuparem o parque Gezi, deixando no ar a possibilidade de a operação lançada ao início da manhã para desocupar a praça Taksim se estender à zona vizinha.

"Gezi é um parque, não é uma zona de ocupação. Convido todos os que são sinceros a retirarem-se", afirmou o chefe de Governo, durante uma reunião do grupo parlamentar do seu Partido da Justiça e Desenvolvimento. Depois de ter sido criticado pela dureza com que as forças de segurança reprimiram os protestos iniciais, Erdogan considerou plenamente justificada a entrada da polícia na praça Taksim: "O que é que os manifestantes esperavam? Que nos ajoelhássemos à sua frente?"

O governador de Istambul já garantiu que as operações policiais vão continuar, dia e noite, até que a praça fique vazia.

Entretanto, o Parque Gezi tornou-se um local de acampamento de opositores do governo de Erdogan, desde ambientalistas a liberais, passando por activistas de esquerda, estudantes e professores.

Erdogan tem dito que os manifestantes estão a ser usados por vândalos e terroristas, enquanto os opositores o acusam de autoritarismo.

Os protestos na Turquia estão já na segunda semana. O motivo imediato desta onda de indignação popular foi o anúncio de que o parque Gezi, junto à praça central de Taksim, em Istambul, seria destruído para ser reconstruída uma caserna militar otomana com um centro comercial no interior.

Mas este foi apenas o gatilho que fez disparar a fúria com as políticas conservadoras e islamizantes do Governo e o ímpeto de lançamento de projectos faraónicos em Istambul.

É que a este descontentamento não é alheia a política de Erdogan e algumas regras que o Governo aprovou nas últimas semanas e que, segundo os observadores, têm como finalidade islamizar a sociedade turca. Recep Erdogan, líder do AKP, é um conservador. O partido é de inspiração islâmica e está no poder há dez anos. Tem imposto uma visão moralista da sociedade que, apesar de maioritariamente muçulmana, é laica.

Recentemente, foi limitada a venda de álcool, assim como a publicidade a este produto. E numa estação de metro de Ancara foi transmitido um aviso sonoro dizendo a um grupo de adolescentes que lá se encontrava que os beijos em público são proibidos. As hospedeiras da Turkish Airlines foram proibidas de usar saias demasiado curtas e justas e baton vermelho — a revista Foreign Policy fala de uma vaga de neo-otomanismo na Turquia, de que faz parte um plano de construção de edifícios de grande envergadura.
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 

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