Picos de metal contra sem-abrigo em Londres causam polémica

Analogia com método usado para manter pombos longe de edifícios repetida nas redes sociais.

Foto
Picos de metal à entrada de um prédio em Southwark Bridge Road DR

A fotografia de um canto de um edifício no centro de Londres com pequenos picos de metal provocou reacções zangadas no Twitter. A medida que pretende aparentemente impedir que sem-abrigo usem o local para dormir foi criticada, e repetiam-se exemplos de outros casos, em Londres e noutras cidades.

No caso da fotografia, trata-se de um bloco de apartamentos na Southwark Bridge Road. O diário britânico The Telegraph ouviu pessoas que moram na zona contar que há umas semanas dormia ali um sem-abrigo. “Há duas semanas, de repente, foram postos aqueles picos. Parto do princípio de que seja para que os sem-abrigo não durmam ali.”

Outras fotografias de medidas semelhantes, por exemplo perto do supermercado Tesco em Regent Street, foram também partilhadas na rede social. O supermercado já veio dizer que os picos não servem para impedir pessoas de dormir mas sim para evitar que “comportamentos anti-sociais como fumar e beber, que podem ser intimidantes para os clientes”, segundo um porta-voz.

Andrew Horton, 33, de Woking, Surrey, tirou a fotografia e postou no Twitter provocando os comentários irritados. Um dos comentadores, David Wells, dizia: “Estes picos anti-sem-abrigo são como os que são usados para manter os pombos longe dos edifícios. Os sem-abrigo são considerados uma praga.”

Multiplicaram-se outros exemplos: uma ponte na China cheia de mini-pirâmides que impedem pessoas de lá dormir, um parque no Japão com bancos redondos, feitos de modo a que seja impossível lá dormir.

Organizações de apoio a sem-abrigo dizem que estes métodos não são novos. Mas notam que podem ser cada vez mais visíveis quando há cada vez mais sem-abrigo: “Nos últimos três anos, houve um aumento de 36% de pessoas a dormir ao ar livre a nível nacional, o aumento foi de 75% em Londres”, disse Katharine Sacks-Jones, da organização Crisis. A crise e os cortes nos benefícios sociais, especialmente o de habitação, são as razões para este grande aumento. O que é um escândalo, comentou, “é que haja pessoas a ter de dormir na rua na Grã-Bretanha do século XXI”. Segundo dados recentes, serão 185 mil por ano.

“Podem estar a sofrer na sequência do fim de uma relação, da perda de um familiar, de violência doméstica. Merecem mais do que ser empurrados para a porta seguinte”, disse Sacks-Jones ao Telegraph. “Nunca vamos atacar o problema com picos no chão. Temos sim de lidar com as verdadeiras causas do problema.”

Na Europa, a Hungria tornou-se tristemente famosa por leis criminalizando o dormir na rua. Ainda que residentes de Budapeste notem que é tolerado em várias zonas da cidade, a lei prevê penas desde multas a prisão para os sem-abrigo (além disso é crime também retirar objectos do lixo).

Nos Estados Unidos várias cidades e estados têm regras cujo objectivo é levar os sem-abrigo para longe de parques e outros espaços públicos – em Palo Alto, Califórnia, é proibido dormir até em carros estacionados e em Manteca, no mesmo estado, foram mudados os horários da rega automática dos parques para que ninguém durma lá. 

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