Obama pede desculpa aos Médicos Sem Fronteiras por ataque a hospital

Gesto surge cinco dias depois do bombardeamento ao hospital em Kunduz que matou 22 pessoas. EUA asseguram investigação imparcial e transparente.

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Sobreviventes do ataque aéreo ao hospital de Kunduz recebem tratamento em Cabul Wakil Kohsar/AFP

Barack Obama telefonou à presidente da organização humanitária Médicos Sem Fronteiras para lamentar o ataque aéreo que, segundo a Casa Branca, atingiu por engano o hospital do grupo em Kunduz, no Afeganistão. O pedido de desculpa, gesto raro no que toca a acções norte-americanas no estrangeiro, foi feito na quarta-feira, cinco dias passados do incidente e já depois de responsáveis do Pentágono terem alterado várias vezes a sua versão sobre as causas do bombardeamento.

A organização humanitária já pediu, em duas ocasiões, que fosse iniciada uma investigação internacional e independente ao ataque de sábado sobre o hospital. Fê-lo mais recentemente na quarta-feira, apelando à activação de um organismo de apuramento de violações humanitárias na Convenção de Genebra que nunca entrou em funcionamento. As Nações Unidas dizem que por enquanto não vão avançar com um inquérito próprio, deixando para os Estados Unidos, NATO e Afeganistão investigar internamente as causas do ataque.

Este foi um ponto fundamental do telefonema de Obama. O Presidente dos Estados Unidos garantiu a Joanne Liu, a presidente da MSF, que a investigação interna será “transparente, será exaustiva e será objectiva”, segundo o porta-voz da Casa Branca. Além disto, Obama assegurou à organização humanitária que está pronto para fazer mudanças, caso se conclua que tal é necessário para evitar incidentes semelhantes no futuro.

“Quando os Estados Unidos cometem um erro, agimos à altura e pedimos desculpa”, afirmou na quarta-feira o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest. A MSF publicou uma resposta ao telefonema, dizendo apenas que o pedido de desculpa foi “recebido”. 

Um dia depois do ataque, Obama declarou as suas “mais profundas condolências” às vítimas e suas famílias. Nesse dia anunciou também a realização de um “inquérito completo” ao sucedido. Seguiram-se várias mudanças de posição do exército norte-americano: a primeira reacção foi justificar o ataque com a ameaça de combatentes taliban a tropas americanas, depois dizendo que o bombardeamento foi pedido pelas tropas afegãs e só mais tarde admitindo que foram os seus próprios militares quem aprovaram o alvo.

A Casa Branca explica que o Presidente dos Estados Unidos decidiu que “tinha de saber o suficiente sobre o assunto para chegar à conclusão de que o mais apropriado era pedir desculpa”. São declarações que surgem depois de o general norte-americano responsável pelas operações no Afeganistão ter sugerido à porta fechada que o exército não seguira o protocolo necessário para validar um ataque aéreo.

O bombardeamento ao hospital em Kunduz demorou mais de uma hora e matou 22 pessoas, entre funcionários, médicos e doentes. As instalações foram encerradas – eram as únicas com condições para tratar os ferimentos mais graves no Nordeste do Afeganistão. Responsáveis afegãos insistem em dizer que, à altura do ataque, havia combatentes taliban no Sul do edifício, mas a MSF contesta esta ideia. 

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