Obama apresenta plano para controlar armas e desafia americanos a dizerem "basta"

O Presidente pediu aos cidadãos para questionarem os seus representantes: perguntem-lhes o que é mais importante, o "dinheiro do lobby das armas" ou o sossego?

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Este é o momento de agir, disse Obama Larry Downin/Reuters

Contra o lobby das armas, o lobby dos cidadãos. O Presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, assinou nesta quarta-feira uma proposta de lei para dificultar a venda e posse de armas e disse que a iniciativa só irá para a frente se "o povo quiser".

Numa leitura rápida, foi uma forma de dizer que não agirá contra a vontade dos cidadãos – e esta é uma leitura correcta. Mas há outra, sustentada por outra parte dos discurso: "Perguntem aos vossos representantes no Congresso se apoiam [esta lei]. E se eles responderem que não, perguntem por que razão". Perguntem, pediu o Presidente, se é mais importante "garantirem o dinheiro que o lobby das armas lhes dá para as campanhas" políticas, ou terem os "pais sossegados".

Nos EUA, os membros das duas alas do Congresso, Senado e Câmara de Representantes, são escolhidos por eleição directa, ou seja o eleitor vota numa pessoa. O que Obama fez, num discurso inteligente perante uma plateia onde estavam pais de crianças da Escola Primária de Newton mortas num ataque no mês passado (20 meninos mortos de seis e sete anos e mais seis adultos), foi pôr os cidadãos a confrontarem as pessoas em quem votaram. O ataque de Newton indignou a população, relançou o debate das armas e deu impulso a Obama para avançar com esta iniciativa.

Por isso sublinhou, mais do que uma vez: "Eu só posso fazer alguma coisa se o povo americano quiser". "Temos que perguntar a nós próprios o que é mais importante". "Isto não acontecerá se os americanos não quiserem".

As medidas de controlo de venda e circulação de armas são muitas, entre as quais está a verificação do passado do comprador e reforçar a proibição de venda de armas de assalto militares ou similares (foi com uma desta armas que aconteceu o massacre na escola de Newtown, no Connecticut). Obama prevê a proibição de venda de carregadores, para qualquer tipo de arma, com mais de nove munições. Estão previstas penas pesadas para traficantes (e nesta categoria incluem-se os vendedores de armas não registadas ou fora das lojas oficiais que, segundo as sondagens, são a origem de 40% das armas nas mãos de americanos).

O projecto de lei é vasto e terá que ser discutido, e votado, no Congresso, onde não existe apenas a oposição republicana (maioria na Câmara de Representantes), existe também muita resistência no Senado e, neste, entre a maioria democrata.

Obama falou dos direitos que a Constituição dá aos americanos e que autoriza os cidadãos à posse de armas. Mas acrescentou outros direitos, que os muitos ataques nos últimos anos retiraram ao povo: sendo o direito à vida o primeiro deles. Relembrou os massacres em Columbine (escola secundária), na Virginia Tech (uma escola profissional), num cinema de Aurora (Colorado), e em Newtown.

Terminou o discurso falando de Grace, uma menina de sete anos que "gostava de cor-de-rosa, de praia e sonhava ser pintora". Foram os pais de Grace, que estavam a ouvir o discurso na plateia na Casa Branca, que lhe contaram a história da filha e lhe ofereceram um desenho de Grace que Obama pendurou na Casa Branca.  "Sim, esta é a terra dos livres, e será sempre assim. Mas temos que reconhecer que com os direitos surgem as obrigações, com a liberdade de vivermos a nossa vida como entendemos vem a obrigação de deixarmos os outros fazer o mesmo. Não vivemos isolados, vivemos em sociedade. Somos responsáveis uns pelos outros. Se todos os americanos, de todas as origens, disserem 'chega', a mudança acontecerá. É isso que precisamos de fazer agora", disse Obama.

Assinou a proposta – atrás de si um grupo de crianças, a seu lado o vice-presidente Joe Biden – e terminou, sob aplausos: "Feito. Cá vamos nós".
 

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