O temido Exército Branco parou a marcha no Sudão do Sul

Milícia nuer avançava contra capital do estado de Jonglei, rico em petróleo. ONU temia "banho de sangue".

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O exército do Sudão do Sul atacou a milícia com helicópteros e fê-la recuar, dizem fontes oficiais James Akena/REUTERS

Uma milícia étnica que no passado já cometeu vários massacres no Sudão do Sul mobilizou-se de novo para marchar contra Bor, a capital do estado rico em petróleo de Jonglei. Mas este domingo terá deixado de avançar, por motivos que ainda não são claros.

A BBC diz que os líderes comunitários locais terão convencido muitos jovens nuer deste Exército Branco a desmobilizar, enquanto a Reuters noticia que o exército regular, maioritariamente de etnia dinka, como o Presidente Salva Kiir, se envolveu já em combates com estes guerrilheiros mais ou menos improvisados que reconhecem como líder o ex-vice-presidente, Riek Machar, também um nuer.

O Exército Branco – assim chamado porque os guerrilheiros cobrem a cara e o corpo com cinza para se protegerem da picada de insectos e do Sol – inspira muito medo no Sudão do Sul, um país nascido em 2011, após uma sangrenta guerra de duas décadas com o Norte.

Está implicado no massacre de Bor de 1991, em que pelo menos 2000 pessoas foram mortas, diz a BBC, e por várias vezes lutou com Riek Machar, que antes de ser vice-presidente foi um comandante na guerra contra Cartum. Mas mesmo após a independência, o Exército Branco voltou a marchar – em 2011 e 2012, diz a BBC, matou centenas de pessoas da etnia murle, em represálias contra o roubo de gado. E dessa vez Machar, que foi ao seu encontro, não os conseguiu travar.

Desta vez, a marcha deste grupo armado foi detectada em voos de reconhecimento da Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul (Minuss), a cerca de 50 km de Bor. As autoridades de Juba especificaram que seriam cerca de 25 mil combatentes. O porta-voz da Minuss, Joseph Contreras, “salientou a preocupação da ONU com o possível “banho de sangue”, a confirmar-se que “um grande número de jovens armados” marchava para Bor “com a possível intenção de atacar outras comunidades”.

Ao fim do dia, no entanto, o porta-voz do Exército do Sudão do Sul, Philip Aguer, disse à Reuters que foram usados helicópteros para disparar contra as colunas destes combatentes. “Eles dispersaram e voltaram para trás”, disse o porta-voz do Exército de Libertação do Sudão, num contacto telefónico a partir da capital Juba, a 190 km de Bor.

O porta-voz dos rebeldes afectos a Riek Machar não desmentiu a presença de forças hostis ao Governo no estado, mas afirmou que não seriam nuer mobilizados pelo ex-vice-presidente, mas soldados do Exército que decidiram voltar-se contra o Governo. Estas ameaças acontecem enquanto vigora o prazo dado pelos países da comunidade da África Oriental – até terça-feira – para que Salva Kiir e Riek Machar aceitem sentar-se à mesa das negociações e parar os combates.

Kiir e Machar aceitaram dialogar em princípio, mas sem fixar datas. Machar exige a demissão de Kiir e não quer pousar as armas enquanto não forem libertados todos os seus aliados detidos em Juba após 15 de Dezembro, quando o Presidente anunciou que houve uma tentativa de golpe de Estado. Mas o porta-voz do Governo diz que só oito dos 11 detidos podem ser libertados, e apenas quando Reik Machar aceitar negociar.

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