O temido Exército Branco parou a marcha no Sudão do Sul
Milícia nuer avançava contra capital do estado de Jonglei, rico em petróleo. ONU temia "banho de sangue".
Uma milícia étnica que no passado já cometeu vários massacres no Sudão do Sul mobilizou-se de novo para marchar contra Bor, a capital do estado rico em petróleo de Jonglei. Mas este domingo terá deixado de avançar, por motivos que ainda não são claros.
A BBC diz que os líderes comunitários locais terão convencido muitos jovens nuer deste Exército Branco a desmobilizar, enquanto a Reuters noticia que o exército regular, maioritariamente de etnia dinka, como o Presidente Salva Kiir, se envolveu já em combates com estes guerrilheiros mais ou menos improvisados que reconhecem como líder o ex-vice-presidente, Riek Machar, também um nuer.
O Exército Branco – assim chamado porque os guerrilheiros cobrem a cara e o corpo com cinza para se protegerem da picada de insectos e do Sol – inspira muito medo no Sudão do Sul, um país nascido em 2011, após uma sangrenta guerra de duas décadas com o Norte.
Está implicado no massacre de Bor de 1991, em que pelo menos 2000 pessoas foram mortas, diz a BBC, e por várias vezes lutou com Riek Machar, que antes de ser vice-presidente foi um comandante na guerra contra Cartum. Mas mesmo após a independência, o Exército Branco voltou a marchar – em 2011 e 2012, diz a BBC, matou centenas de pessoas da etnia murle, em represálias contra o roubo de gado. E dessa vez Machar, que foi ao seu encontro, não os conseguiu travar.
Desta vez, a marcha deste grupo armado foi detectada em voos de reconhecimento da Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul (Minuss), a cerca de 50 km de Bor. As autoridades de Juba especificaram que seriam cerca de 25 mil combatentes. O porta-voz da Minuss, Joseph Contreras, “salientou a preocupação da ONU com o possível “banho de sangue”, a confirmar-se que “um grande número de jovens armados” marchava para Bor “com a possível intenção de atacar outras comunidades”.
Ao fim do dia, no entanto, o porta-voz do Exército do Sudão do Sul, Philip Aguer, disse à Reuters que foram usados helicópteros para disparar contra as colunas destes combatentes. “Eles dispersaram e voltaram para trás”, disse o porta-voz do Exército de Libertação do Sudão, num contacto telefónico a partir da capital Juba, a 190 km de Bor.
O porta-voz dos rebeldes afectos a Riek Machar não desmentiu a presença de forças hostis ao Governo no estado, mas afirmou que não seriam nuer mobilizados pelo ex-vice-presidente, mas soldados do Exército que decidiram voltar-se contra o Governo. Estas ameaças acontecem enquanto vigora o prazo dado pelos países da comunidade da África Oriental – até terça-feira – para que Salva Kiir e Riek Machar aceitem sentar-se à mesa das negociações e parar os combates.
Kiir e Machar aceitaram dialogar em princípio, mas sem fixar datas. Machar exige a demissão de Kiir e não quer pousar as armas enquanto não forem libertados todos os seus aliados detidos em Juba após 15 de Dezembro, quando o Presidente anunciou que houve uma tentativa de golpe de Estado. Mas o porta-voz do Governo diz que só oito dos 11 detidos podem ser libertados, e apenas quando Reik Machar aceitar negociar.