O recreio

Um artigo ao acaso em que nos leccionam três magníficos ministros das Finanças.

O melodrama do Syriza tem dado um enorme recreio ao que por aí se chama “opinião”. Toda a gente tem uma opinião firme sobre tudo, mesmo quando muda dia a dia, por razões de política internacional e doméstica.

Costa comanda o batalhão dos macios (não vá Varoufakis tirar um voto ao PS) e dos benevolentes: sim, talvez, também, solidariedade e por aí fora. A seguir, vem a brigada da experiência, que já passou pelo governo ou por Bruxelas, que nos garante a pés juntos que no fundo, no fundo, as coisas de maneira geral acabam sempre por se consertar. E, no fim, está o grande bando dos que esperam de uma maneira ou de outra a catástrofe final, nas suas temerosas variantes. Para quem vê televisão ou, de quando em quando, lê jornais não há sossego.

Um artigo ao acaso em que nos leccionam três magníficos ministros das Finanças. Perguntem: existe ou não a possibilidade de “contágio” de Portugal com vírus da Grécia? Teixeira dos Santos, que aturou Sócrates durante anos, acha que sim. Existe “um risco muito forte”, que ele “avalia” de “significativo” (significativo?). Manuela Ferreira Leite, que tratou de Barroso até ele fugir, “não é capaz de afirmar” seja o que for, porque segundo a preveniu o sr. Draghi se começa a entrar por “águas desconhecidas” (que lhe devem lembrar o Mar Tenebroso) e ela não gosta do desconhecido, não hesita: a bancarrota “organizada” da Grécia não nos fará mal, uma bancarrota desorganizada muito provavelmente sim.

Mas nada chega à indiferença olímpica de Miguel Beleza. Pensa Beleza que “saia” a Grécia ou “saia” Portugal, isso teria “pouca influência” na zona euro. E acredita, evidentemente, que a bancarrota da Grécia não iria provocar grandes sarilhos cá por casa. O dr. Miguel Beleza é um sedativo na berrata estabelecida. O que me permitirão descrever como a “economia institucional” anda muito nervosa. A “economia de esquerda” (?) fala em “carnificina social” e em “retrocesso” da civilização. O português comum esvoaça no meio da barafunda. Só o dr. Beleza pachorrentamente dá o seu passeio e consegue aguentar a trepidação alheia. De quem Portugal precisa é do dr. Beleza e não do bando de excitados que se esganiça por este pobre país, sem saber o que pensa e o que quer. Deixem de pensar em desgraças. O dr. Beleza sabe mais do que nós. Não tirou um curso na Lusófona; tirou um doutoramento no M.I.T..

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