O euro em dia de Waterloo

Os governos têm de decidir se querem a Grécia na União ou se preferem comemorar Waterloo com uma Europa a desfazer-se.

A boa notícia na Europa é que este é o primeiro século em muitos no qual chegamos ao ano 15 sem uma guerra de todos contra todos. Há cem anos, a Grande Guerra; há duzentos anos, as Guerra Napoleónicas (Waterloo faz dois séculos amanhã); há trezentos a Guerra da Sucessão espanhola, que pôs Portugal, Inglaterra e Holanda contra Espanha e França — e por aí adiante.

A má notícia é tudo o resto. No mesmo dia da Batalha de Waterloo há reunião do eurogrupo e as conversações sobre a Grécia parecem ter chegado a um beco sem saída. A partir daqui, diz-se, ou o governo grego verga ou a Grécia sai do euro.

O primeiro grande erro destas conversações foi ter posto o bloco do eurogrupo a negociar com a Grécia em vez de o por a negociar entre si. Criou-se assim uma situação de dezoito-contra-um em vez de se tentar encontrar uma solução global para as dívidas europeias.

O Banco Central Europeu está finalmente a atuar como prestamista de último recurso — como foi defendido por toda a oposição à via austeritária desde 2010. Por coincidência, o Tribunal de Justiça da União Europeia decidiu ontem que o programa de compra de dívida dos estados-membros do euro é perfeitamente legal, ao contrário do que defendia a Alemanha.

O segundo grande erro foi deixar a Grécia de fora deste programa, bem como do "apoio quantitativo" que está a pôr no mercado 60 mil milhões de euros todos os meses. Caso a Grécia estivesse incluída, os últimos grandes elementos da crise do euro que começou em 2010 estariam resolvidos no plano monetário — embora ainda não no plano económico e social, onde é necessário um "plano Marshall" para os países em crise profunda.

O terceiro grande erro é que aquilo que foi tratado como um problema de liquidez da Grécia, levando a resgates de 300 mil milhões de euros contra uma austeridade selvagem, não é resolvido agora quando se trata de um problema comparativamente menor de sete mil milhões para pagar dívidas.

***

Assim sendo, com a Grécia fora dos instrumentos com que o BCE está a tratar a situação dos outros países, e uma quebra coletiva da confiança entre negociadores, a escolha não é entre ficar ou sair do euro, como muitos imaginam. A escolha é entre o incumprimento e a saída da União — e ninguém terá dúvidas sobre qual é a primeira escolha da Grécia. Sair da União (única forma de emitir moeda própria que os credores possam reconhecer) implica fechar fronteiras, estar fora do mercado comum e uma série de outros efeitos colaterais como ser suspenso da Organização Mundial do Comércio. Não pagar implica estar fora dos mercados — mas isso a Grécia já sabe como é.

Compete aos governos da União saber se querem ajudar a evitar este cenário e acabar de uma vez por todas com a crise do euro. Ou se querem descredibilizar a própria União punindo um estado-membro até às últimas consequências.

No dia 25 de junho, o Conselho Europeu precisa de unanimidade para manter as sanções sobre a Rússia. Uma Grécia punida vetará as sanções. Até lá, os governos têm de decidir se querem a Grécia na União ou se preferem comemorar Waterloo à maneira, com uma Europa a desfazer-se.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários