Nova Iorque presa por ter nevão e presa por não ter

Previa-se "o maior nevão da história" da cidade, "algo nunca visto". O que aconteceu motivou queixas de alarmismo e pôs o mayor de Nova Iorque a ler uma notícia do jornal satírico The Onion.

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O argumento já foi usado como peça central de muitos sucessos do cinema: entre a possibilidade de um apocalipse e as consequências de uma decisão precipitada que pode prejudicar a economia, as autoridades começam sempre por minimizar os riscos e acabam por reagir tarde de mais.

Esta semana, o governador de Nova Iorque decidiu trocar a volta aos filmes, ao decidir suspender a circulação do metropolitano, depois de o mayor ter preparado os habitantes para o que poderia ser "o maior nevão da história" da cidade.

No final, Nova Iorque escapou às previsões mais pessimistas e os dois responsáveis ficaram no centro de uma outra tempestade – acusados de criarem alarmismo e ridicularizados por humoristas.

Na segunda-feira, o jornal satírico The Onion abriu caminho a uma sucessão de piadas sobre a conferência de imprensa do mayor de Nova Iorque, Bill de Blasio, que no dia anterior alertara a população para a gravidade do fenómeno que iria abater-se sobre a cidade, usando expressões como "preparem-se para algo nunca visto".

"Mayor de Nova Iorque: reconciliem-se com o vosso Deus, porque irão perecer na tempestade", lê-se no título da notícia do The Onion.

"Será uma tempestade com consequências nunca antes vistas por homens ou demónios. Apertem os vossos filhos contra o peito, e encontrem algum conforto no facto de que eles vão gemer apenas algumas horas, antes de a morte os acalmar para sempre", continuava a notícia, numa citação fictícia do mayor de Nova Iorque, antes de concluir: "De Blasio acrescentou que o metropolitano e os autocarros vão retomar a circulação na quarta-feira, a não ser que a tempestade se intensifique de forma inesperada."

Não foi preciso esperar por quarta-feira. Na terça-feira de manhã, quando os nova-iorquinos olharam pela janela à espera de encontrar pela frente um manto de neve com um metro de altura, viram um cenário comum nesta época do ano, muito longe do "maior nevão da história".

 O correspondente da BBC em Nova Iorque, Nick Bryant, diz que muitos nova-iorquinos faziam uma única pergunta: "É só isto?"

"É verdade, nevou", escreveu o jornal New York Daily News na terça-feira, em tom jocoso, ilustrando a sua primeira página com uma fotografia de uma criança a divertir-se na neve com um trenó.

A decisão mais polémica foi o encerramento do metropolitano, anunciado na tarde de segunda-feira pelo governador do estado de Nova Iorque, Andrew Cuomo. Foi a primeira vez em 111 anos de história que as carruagens não circularam por causa de um alerta de neve.

"As previsões apontam para um dos maiores nevões de sempre nesta região, e nós temos de pôr a segurança em primeiro lugar e tomar todas as precauções necessárias", justificou o governador na segunda-feira.

Na manhã de terça-feira, o instituto de meteorologia de Nova Iorque admitiu no Facebook que as suas previsões falharam, mas explicou que isso faz parte da vida: "Apesar de estar sempre a melhorar, a ciência da previsão de tempestades ainda está sujeita a erros (…) Estão a ser desenvolvidos mais esforços, incluindo investigação, para comunicarmos mais facilmente essa incerteza nas previsões."

A população de Nova Iorque divide-se entre as queixas de alarmismo e a compreensão pelas precauções tomadas – ainda que possam ter sido exageradas –, mas o mayor Bill de Blasio parece ter encerrado a discussão na terça-feira, usando a sátira a seu favor. Numa conversa com jornalistas, o mayor de Nova Iorque pegou num pedaço de papel e leu a notícia do jornal satírico The Onion em tom grave, motivando risos entre a assistência.

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