Neve ajudou a acalmar protestos em Ferguson na véspera do Dia de Acção de Graças

Governador do Missouri recusa nomeação de um novo grande júri para avaliar provas contra o polícia que matou Michael Brown.

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Dois mil agentes da Guarda Nacional continuam mobilizados em Ferguson Lucas Jackson/Reuters

A véspera do Dia de Acção de Graças, a grande festa familiar nos Estados Unidos, foi de acalmia nos protestos contra a decisão de não levar a julgamento o polícia branco que matou Michael Brown. Após duas noites de motins, apenas algumas dezenas de pessoas desafiaram o nevão que caiu sobre Ferguson, no Missouri, mas a revolta na cidade contra a morte do jovem negro continua latente.

As ruas daquele subúrbio de St. Louis mantêm-se fortemente patrulhadas, com dois mil elementos da Guarda Nacional a apoiar a polícia local. Mas terá sido o intenso frio que se fez sentir durante a noite que mais ajudou a evitar uma terceira noite de desacatos. O único incidente registado pela polícia aconteceu em St Louis quando as forças de segurança dispersaram à força um grupo de manifestantes que estariam a tentar entrar na sede do município, detendo três deles.

Depois de na véspera mais de 170 cidades americanas se terem unido a Ferguson organizando manifestações contra a decisão de um grande júri de não acusar o polícia que em Agosto matou Brown, os pais do jovem foram quarta-feira a Nova Iorque para rezar juntamente com familiares de outros dois afro-americanos mortos recentemente pela polícia – Eric Garner, um homem de 43 anos que morreu de ataque cardíaco depois de ter sido manietado por vários agentes que o pretendiam deter, e Akai Gurley, um jovem de 28 anos morto por engano por um polícia nas escadas escuras de um prédio.

Mas se as celebrações do Dia de Acção de Graças contribuem também para uma acalmia da situação, há já novos protestos previstos. Várias celebridades juntaram-se a um movimento para boicotar a Black Friday, dia tradicional de saldos após o feriado e que abre para o comércio a época de vendas natalícia, em protesto contra a decisão do grande júri. E Al Sharpton, um dos mais conhecidos activistas dos direitos cívicos nos EUA, convocou para sábado um dia de manifestações em todo o país contra a injustiça e a discriminação racial.

Mas as autoridades não dão sinais de recuo. Um porta-voz do governador do Missouri, Jay Nixon, rejeitou os apelos para que seja revista a decisão do painel de cidadãos – seis brancos e três negros – que durante meses acompanhou as investigações e avaliou as provas disponíveis. Várias vozes tinham sugerido a nomeação de um procurador especial para relançar as investigações e apresentar de novo o caso ao grande júri, mas o governador diz que a opção não está em cima da mesa.

Certo é que a violência, em especial os motins que na noite de segunda-feira colocaram Ferguson a ferro e fogo, aumentaram a tensão racial na região de St Louis. Uma das maiores carreiras de tiro dos EUA, situada nos arredores da cidade e frequentada sobretudo por brancos, está a vender entre 20 a 30 armas de fogo por dia, quando antes não vendia mais do que cinco, noticiou a AFP.  

Polícia divulga vídeo de outro tiroteio
Com o caso de Michael Brown a dominar os noticiários, a morte de Tamir Rice, um adolescente de 12 anos, veio reforçar as acusações de que a polícia age com violência desproporcional contra os negros. Numa tentativa para afastar as críticas, a polícia de Cleveland, no Ohio, divulgou as imagens das câmaras do parque de estacionamento onde o rapaz se passeou com uma réplica de pistola.

Nas imagens é visível o rapaz a apontar a arma em várias direcções, incluindo a uma pessoa que passa pelo local, a falar ao telemóvel e depois a sentar-se numa paragem. É então que um carro de polícia pára à sua frente. O automóvel tapa parcialmente o jovem e não é claro o momento em que um dos agentes o alveja, mas é possível ver que a determinado momento levanta o braço com que empunha a arma, não sendo claro se o faz numa atitude de ameaça ou rendição.

O polícia que efectuou os disparos diz que só o atingiu depois de por três vezes ter dito ao jovem para levantar os braços. A pessoa que telefonou para a polícia a alertar para a presença do jovem no local indicou, por duas vezes, que a arma “provavelmente era falsa” e ele “não passaria de um miúdo”, mas o comandante da polícia local diz que os agente que responderam à chamada não foram informados desse facto e acrescenta que a arma não tinha o autocolante laranja que a identificava como réplica.

A família assegura que o jovem nunca teve problemas com a polícia e era um bom aluno, dizendo que a arma lhe tinha sido emprestada por um amigo.

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