Bombas de Israel em Gaza matam mulher grávida e filha

Israelitas são acusados de uso indiscriminado de meios letais. Motins e violência prosseguem em territórios palestinianos.

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Os confrontos dos últimos dias já mataram 23 palestinianos e quatro israelitas Yasser Gdeeh/Reuters

Ataques aéreos israelitas de retaliação contra Gaza mataram uma mulher palestiniana grávida e a sua filha de dois anos. Os aviões de Israel respondiam ao lançamento de rockets vindos de este território palestiniano, na noite de sábado, interceptados pela defesa antiaérea no Sul do território israelita. Ao fazê-lo, destruíram a casa de Noor Hassan, de 30 anos, matando-a e à sua filha mais nova, e ferindo o seu marido e filho de cinco anos.

O exército israelita diz que está a averiguar a morte de civis no ataque da madrugada deste domingo contra estruturas do Hamas, mas, para além dos órgãos de informação palestinianos ligados ao Hamas, fontes médicas e testemunhas, vídeos e fotografias da família publicadas nas redes sociais já o parecem ter comprovado. O Hamas afirma que uma das bombas israelitas atingiu um campo do seu grupo armado e que as ondas de choque destruíram a casa dos Hassan.

Pelo resto dos territórios ocupados, a violência prossegue pelo 11.º dia, agora sob receios de que a morte de mais palestinianos possa alimentar os motins em Gaza e na Cisjordânia. O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, anunciou na reunião semanal do seu Conselho de Segurança, neste domingo, que chamaria 16 patrulhas policiais na reserva para responder ao aumento na violência. "É preferível chamar uma força massiva antecipadamente para lidare com possíveis desenvolvimentos do que chamá-los depois de algo já ter acontecido", afirmou, citado pela Reuters.

Novos motins e protestos nos territórios ocupados causaram novos feridos às mãos da polícia israelita. Segundo serviços médicos palestinianos, 37 manifestantes foram atingidos por munições reais. Uma mulher palestiniana é acusada de ter causado a explosão de uma botija de gás que transportava no seu carro ao ser parada pela polícia israelita, segundo o Shin Bet, os serviços de informação israelitas. Os relatos diferem – fontes palestinianas dizem que se tratou de um incêndio no sistema eléctrico do carro –, a mulher ficou gravemente queimada e um soldado israelita ligeiramente ferido.

Suspeita-se que o bombardeamento deste domingo sobre Gaza inflame mais os ânimos palestinianos. As acusações dirigidas contra o Éxército e forças de segurança israelitas quanto ao uso indiscriminado ou desproporcional de violência contra palestinianos são um dos motores dos protestos, embora o sentimento de expropriação nos locais sagrados do Islão em Jerusalém Oriental continue a ser o grande pano de fundo dos levantamentos.

O vídeo da morte do palestiniano Fadi Alloun às mãos da polícia fez explodir motins nos territórios ocupados, ainda no início do mês. Aconteceu poucos dias depois de um casal de colonos israelitas ter sido abatido a tiro por palestinianos e dois judeus ultra-ortodoxos terem sido esfaqueados em Jerusalém Oriental. A polícia israelita afirmou então que Alloun estava armado com uma faca e ferira antes um jovem israelita, o que não se comprovou. O vídeo mostra que, no momento da sua morte, o jovem israelita de 19 anos está desarmado e em fuga de um grupo de colonos. Já abatido, ouve-se os que assistiam dizer "morte aos árabes".

Na sexta-feira, já nestes dias de violência, surgiu um vídeo semelhante. Este mostrava Israa Ayed, também palestiniana, também de 19 anos, rodeada pela polícia que, depois de um impasse, a alvejou várias vezes. No momento em que é atingida, Israa tem uma mão levantada – estaria armada com uma faca, segundo a polícia –, mas por diante há cinco soldados israelitas a metros de distância. A jovem está em estado crítico.

"Não há quaisquer provas de que Israa tinha uma faca", disse à Al-Jazira a porta-voz da Amnistia Internacional em Israel, Mariam Farah. A responsável disse o mesmo de Alloun. "Não pareciam ser ameaça suficiente aos soldados para que estes usassem deliberadamente força letal", disse ainda Farah, que conclui: "São matanças extrajudiciais."

A Human Rights Watch suscita as mesmas suspeitas. Uma observadora desta organização humanitária foi atingida pela polícia israelita na Cisjordânia, já de madrugada de domingo, durante um momento de acalmia nos protestos. Vestia um colete que a sinalizava como jornalista, mas, mesmo assim, e sem aviso, foi atingida por duas balas revestidas de borracha e por uma terceira, real, que a feriu na mão.

"Temos suspeitas muito fortes sobre o uso de força excessivo e suspeitas muito fortes sobre o disparo indiscriminado ou até mesmo deliberado contra multidões de manifestantes", disse a porta-voz da organização humanitária, Sari Bashi. Na sexta-feira, a polícia israelita matou sete palestinianos num motim em Gaza e, no dia seguinte, outros dois.

 

 

 

 

 

 

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