MH370: à procura de uma agulha no “sítio mais inacessível à face da terra”

A zona onde os australianos identificaram dois objectos que podem ser destroços do avião da Malaysia Airlines é pouco navegada e atravessada por fortes correntes.

Membros das Força Aérea australiana lançam bóias na zona das buscas
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Membros das Força Aérea australiana lançam bóias na zona das buscas AFP
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Os aviões mais bem equipados estão envolvidos nas buscas, mas isso não dá garantias de que os dois objectos fotografados por um satélite e identificados como possíveis destroços do avião da Malaysia Airlines desaparecido desde dia 8 com 239 pessoas a bordo possam ser encontrados com rapidez. Na verdade, é possível que nem cheguem a ser encontrados.

A partir desta “pista credível”, e ainda que as buscas se mantenham noutras zonas, a Austrália lançou uma operação para encontrar os dois objectos. Depois de analisadas as correntes, com a ajuda de bóias que simulam os movimentos na água entretanto largadas por aviões, a área de buscas foi reduzida a 23 mil quilómetros quadrados de águas geladas.

Trata-se de uma região do Sul do oceano Índico, a quase 2500 quilómetros da costa da Austrália (Perth é a cidade mais próxima), tão remota e pouco navegada que, quando foi dado o alerta, o navio mais próximo se encontrava a dois dias de viagem. Nas palavras do primeiro-ministro australiano, Tony Abbott, “é mais ou menos o sítio mais inacessível que podemos imaginar à face da Terra”. O ministro da Defesa, David Johnson, descreveu a operação como “um pesadelo logístico”.

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A distância da costa significa que os aviões demoram quatro horas a chegar e só têm duas horas para tentar avistar os destroços antes de iniciarem o regresso. Nos dois primeiros dias de buscas, cinco aviões participaram sem qualquer sucesso. Os aparelhos vieram da Austrália, da Nova Zelândia e dos Estados Unidos, incluindo um avião de patrulha P-8 Poseidon, preparado para monitorizar e responder a ataques de submarinos, equipado com a melhor tecnologia disponível. Sábado, já serão três os navios nesta zona.

Por causa da quantidade de imagens que os peritos australianos tinham em mãos, as dos possíveis destroços só foram identificadas quatro dias depois de terem sido tiradas. “As correntes aqui são muito fortes. Em quatro dias, estes objectos podem ter viajado 160 quilómetros”, diz Simon Boxall, oceanógrafo britânico citado pelo Guardian. Isto com condições meteorológicas tranquilas, o que não é caso: aliás, com o início do Outono, nesta sexta-feira, não se antecipam melhorias no tempo.

Os dois objectos – o maior teria uns 24 metros de comprimento, o mais pequeno aproximadamente cinco – foram fotografados quando flutuavam. Mesmo que pertencessem ao avião que desapareceu dos radares depois de levantar de Kuala Lumpur, nada indica que entretanto não se tenham afundado, ou partido em vários fragmentos (o que os levaria a distanciar-se ainda mais depressa do ponto onde foram fotografados). “O que mantém qualquer objecto, uma asa ou parte da fuselagem, a flutuar, é o ar no seu interior. Particularmente com más condições atmosféricas, as probabilidades do ar se escapar são muito altas”, diz Simon Boxall.

A área de buscas está na fronteira da zona conhecida como Vendavais da Latitude 40 (Roaring Forties), onde o mar nunca é calmo, os ventos são muitas vezes fortíssimos e a ondulação é sempre muita. Num mar tão agreste os radares não são de grande ajuda e o mesmo acontece com os infravermelhos, porque os objectos estarão à mesma temperatura da água, explica ao Guardian David Learmount, editor de operações e segurança na Flightglobal, um site de notícias de aviação.

Para o ex-comandante de voo Rick Burgess, ouvido pela CNN, um dos elementos fundamentais é a altura das ondas e a quantidade de espuma. “Estas ondas altas perturbam muito o padrão de buscas quando se está à procura de objectos na água”, diz.

“Temos de encontrar estes objectos a olho… E os olhos não trabalham bem com fraca visibilidade”, afirma David Learmount. Rick Burgess estima que as equipas de busca tenham uma janela de oportunidade de três ou quatro dias. “A partir daí não vejo grandes esperanças de que se encontre nada no curto prazo.”

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