Eurogrupo dá luz verde ao resgate da Grécia, mas Tsipras está fragilizado

Eurogrupo aprovou o empréstimo e elogiou Atenas, mas o Governo perdeu ainda mais o apoio o Syriza. O FMI diz que só decide se participa no empréstimo quando for discutida a sustentabilidade da dívida.

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PANAYIOTIS TZAMAROS/AFP

"O trabalho árduo e intenso valeu a pena", resumiu o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, no final da reunião ministerial que deu luz verde ao novo resgate da Grécia. "Novos empréstimos até um montante máximo de 86 mil milhões de euros serão disponibilizados ao longo dos próximos três anos", confirmava logo a seguir a Comissão Europeia, em comunicado.

À Reuters, o ministro das Finanças da Bélgica, Johan van Overtfeldt, disse que o Eurogrupo tinha decidido apoiar o memorando de entendimento que foi redigido pelos gregos e os negociadores da troika, na terça-feira, ao qual tinham sido "acrescentadas algumas medidas adicionais", que todavia não detalhou.

O governante referia-se ao longo documento que o Parlamento grego passou a noite inteira a discutir. Eram já sete da manhã desta sexta-feira (hora de Atenas), quando os deputados gregos aprovaram o acordo para o terceiro empréstimo das instituições à Grécia -- um texto que só leram em inglês.

Mas apesar de ter passado com 222 votos sim, 64 não, 11 abstenções e três ausências, a votação trouxe uma péssima notícia para Alexis Tsipras: o número de deputados do Governo que votaram “sim” andou pelos 120, menos que o considerado essencial para passar uma moção de censura. O Governo esperava manter os votos negativos e abstenções abaixo de 40. Mas 32 deputados do Syriza votaram contra e 11 abstiveram-se: 43 deputados.

Foram seis abstenções a mais nesta votação do que nas votações anteriores que puseram o primeiro-ministro nesta posição, notam jornalistas gregos. E agora não é claro o que irá acontecer: fala-se numa moção de confiança que Tsipras planearia para dia 20 de Agosto, depois de ser pago o empréstimo ao Banco Central Europeu, ou eleições antecipadas.

Para sobreviver a uma moção de confiança, alguns dos deputados que agora votaram contra ou se abstiveram vão ter de apoiar o Governo.

Defendendo a opção do Governo, Tsipras fez mais um discurso sublinhando a falta de opções. “Teríamos um memorando com dracma ou com euro”, declarou. Martelou na palavra responsabilidade. E reiterou a única hipótese que lhe resta de ter um Governo diferente dos últimos: taxar oligarcas, fortunas, e evasão fiscal.

Yiannis Mouzakis, que comenta no site de análise política e económica Macropolis, comparava no Twitter as declarações dos chefes de Governo na altura de aprovação dos memorandos. “George Papandreou: tomámos uma decisão dolorosa mas responsável. Antonis Samaras: Tomámos uma decisão dolorosa mas responsável. Tsipras: tomámos uma decisão dolorosa mas responsável”.

O primeiro-ministro grego também usou, no seu discurso, actores externos para tentar obter apoio interno: se os deputados recusassem o acordo estariam a fazer um favor ao ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, desejoso de que o plano falhe para a Grécia sair do euro.

Os sinais de uma cisão no Syriza avolumam-se. A ala jovem do partido já apelou directamente à saída da Grécia da União Europeia e da Zona euro.

O líder da Plataforma de Esquerda (a facção anti-austeridade do Syriza) Panagiotis Lafazanis disse que queria ajudar a “esmagar a ditadura da zona euro”. Antes da votação, tinha anunciado, junto com outros 11 membros do partido, a criação de um “movimento unido” contra o novo programa.

Este novo memorando prevê as medidas necessárias para a concessão de um empréstimo ao longo de cinco anos, no valor de 85,5 mil milhões de euros. O documento aprovado contém 57 medidas e 40 projectos de lei que incluem privatizações e reformas substanciais nas áreas da saúde, segurança social, pensões e sistema fiscal, e resulta de duas semanas de maratona negocial entre o Governo de Tsipras e as instituições credoras.

Mas estas logo se apressaram a falar de um acordo técnico e não político, que ainda teria de ter o aval do Eurogrupo, que junta os ministros das Finanças dos países da zona euro. A reunião do Eurogrupo previa-se longa, avisou logo o chefe do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem: a Alemanha vinha pelo seu lado a insistir que eram precisas mais clarificações sobre as medidas prometidas pela Grécia. Mas depois de seis horas, os parceiros do euro aceitaram um novo financiamento para a Grécia.

Por outro lado, o Fundo Monetário Internacional (FMI), instituição-chave para o programa grego, manteve dias de silêncio até vir dizer que condicionará a sua participação no programa a um compromisso dos europeus aliviarem a dívida.

“O FMI fará uma avaliação da sua participação de providenciar qualquer financiamento adicional à Grécia uma vez que tenham sido dados os passos do programa das autoridades e alívio da dívida”, declarou a chefe da missão do FMI na Grécia, Delia Velculscu.

O nó górdio mantém-se assim: a Alemanha, que recusa cortar a dívida, condiciona um acordo à participação do FMI. O FMI exclui participar sem alívio da dívida, que é equivalente a 170% do Produto Interno Bruto (PIB), nível insustentável para alguma hipótese de crescimento económico. O Banco Central Europeu já veio apoiar o FMI nesta pretensão.

A discussão sobre a dívida está calendarizada para Outubro.

Mas com a situação política interna a deteriorar-se, quanto mais tempo passar, mas parece que aumentará a dificuldade em aprovar medidas duras.

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