Líderes convergem para Genebra para fechar acordo nuclear com o Irão

O chefe da diplomacia da Rússia junta-se ao secretário de Estado norte-americano, John Kerry, e aos ministros dos Negócios Estrangeiros de França, Alemanha e Reino Unido na ronda de negociações na Suíça.

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John Kerry voou directamente de Israel para a mesa de negociações com o Irão Jason Reed/Reuters

O Kremlin acaba de confirmar que o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, vai viajar amanhã para Genebra, para “ultimar os detalhes” que ainda impedem a assinatura de um compromisso para a suspensão temporária das actividades nucleares do Irão como contrapartida do desagravamento das sanções internacionais.

“A nossa expectativa é de um resultado muito positivo para as negociações [em curso]”, revela a nota enviada por Moscovo – mais um sinal de que os negociadores do Irão e do chamado grupo 5+1 já terão conseguido desenhar as bases de um compromisso temporário, e que a assinatura de um acordo está iminente.

Lavrov junta-se ao secretário de Estado norte-americano, John Kerry, que aterrou em Genebra de surpresa, esta manhã, com a missão de “resolver as divergências” sinalizadas pelas duas delegações ao fim do primeiro dia de negociações. Pouco depois, chegaram àquela cidade suíça os ministros dos Negócios Estrangeiros da França, Alemanha e Reino Unido, que também desmarcaram a sua agenda oficial para participar nas discussões.

O optimismo quanto a um acordo foi reforçado com as declarações à CNN do líder da delegação iraniana, Mohammad Javad Zarif. “Penso que estaremos em condições de fazer uma declaração conjunta que tenha em conta três elementos essenciais: um objectivo comum, um calendário negocial e medidas para a construção da confiança mútua”, estimou o também ministro dos Negócios Estrangeiros.

O porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, insistiu que se trata de uma proposta de “alcance limitado e reversível”, que exige “concessões concretas” ao regime de Teerão e depende da verificação independente da paralisação das suas actividades nucleares.

O chefe da delegação iraniana, Mohammad Javad Zarif, bateu na mesma tecla da reciprocidade: a república islâmica compromete-se com a inspecção do seu stock nuclear e aceita suspender o seu programa de enriquecimento de urânio a 20%; os EUA devem levantar o bloqueio comercial que provocou uma quebra de 60% nas vendas de crude iraniano nos últimos dois anos.

Não se esperava que a presente ronda negocial produzisse já um acordo definitivo, isto é, um “pacto abrangente e duradouro” capaz de resolver o braço-de-ferro da república islâmica com a comunidade internacional que já dura há dez anos. O Irão insiste que as suas actividades nucleares se destinam exclusivamente à produção de energia e de radioisótopos para a investigação médica. Os países ocidentais argumentam que o programa pode levar à construção de uma bomba atómica.

Em entrevista à NBC News, na quinta-feira, o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, congratulou-se com o estabelecimento de um acordo, que descreveu como “um primeiro passo”, e rebateu as críticas considerando que um compromisso temporário é preferível ao prolongamento do confronto com o Irão.

“Nós não temos de confiar neles. A arquitectura das sanções não se altera. O que propomos é um alívio modesto [das sanções] em troca da paragem das suas actividades nucleares. E são eles que têm de nos dar garantias de cumprimento do acordo. Se não avançarem nessa direcção, a situação pode deteriorar-se, e eles sabem disso”, esclareceu.

Além da renitência iraniana, a Casa Branca tem que ultrapassar a oposição dos legisladores do Congresso (sobretudo a bancada republicana, que pretende apertar ainda mais o regime de sanções em vigor) e acalmar os seus aliados do Médio Oriente – além das duras críticas exprimidas pelo Governo de Israel, chegaram a Washington ecos das reservas das monarquias do Golfo Pérsico, sobretudo da Arábia Saudita, quanto à nova abertura diplomática do Irão.

“Parece que os iranianos estão muito satisfeitos em Genebra, e devem estar porque sem pagar nada receberam tudo o que queriam”, criticou o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. “Queriam o alívio das sanções que deixaram a sua economia à beira do abismo, e conseguiram. E não queriam abrir mão das suas capacidades nucleares e não abriram. O Irão obteve o negócio do século e a comunidade internacional o pior acordo possível”, prosseguiu.

Além da sua feroz oposição ao acordo, Netanyahu deixou um recado. “Israel rejeita este compromisso em absoluto. E não ficamos obrigados a nada: continuaremos a fazer tudo para defender o nosso território e a segurança da nossa população”, prometeu.

Em declarações à Reuters, um diplomata ocidental citado sob anonimato especulava que as declarações de Netanyahu poderiam funcionar a favor do Presidente do Irão Hassan Rouhani e dos seus negociadores. Apesar de o Supremo Líder Ayatollah Ali Khamenei ter manifestado publicamente o seu apoio aos esforços diplomáticos em curso, o Governo tem sido pressionado pelas elites militares mais conservadoras, que não esconderam o seu cepticismo com a postura negocial da equipa do Presidente.

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