Kiev aperta cerco no Leste mas sofre baixas no coração da revolta pró-russa

Quatro elementos das forças ucranianas foram mortos e mais de 30 ficaram feridos em combates com os separatistas em Slaviansk. Milícias pró-russas derrubaram um helicóptero e continuam a controlar o centro da cidade.

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Um soldado ucraniano assume posição à entrada da cidade de Slaviansk VASILi MAXIMOV/afp

As forças leais ao Governo interino da Ucrânia reforçaram nesta segunda-feira a ofensiva contra as milícias pró-russas na cidade de Slaviansk, o bastião dos separatistas na manta de retalhos em que se transformou o Leste do país.

Pelo menos quatro paramilitares ucranianos foram mortos e 30 ficaram feridos, segundo as informações avançadas pelo Ministério do Interior, mas o número de vítimas mortais nas primeiras horas desta segunda-feira pode ter chegado às duas dezenas, entre civis e combatentes de ambos os lados.

Mais uma vez, o motivo deste novo surto de violência é explicado de forma diferente consoante a fonte da informação: o Governo ucraniano garante que as suas forças foram emboscadas pelos "terroristas" pró-russos, e os líderes dos separatistas dizem ter sido atacados pelos "fascistas" no poder em Kiev.

"Pela manhã, um esquadrão que integra a operação antiterrorista foi alvo de uma emboscada de grupos terroristas. Eles estão a usar armamento pesado", acusou o ministro do Interior ucraniano, Arsen Avakov. Nos combates que se seguiram, quatro elementos da polícia paramilitar da Ucrânia foram mortos e mais de 30 ficaram feridos, anunciou o governante.

Do lado dos separatistas, o líder das autoproclamadas forças de autodefesa de Slaviansk, Igor Strelkov, disse à agência de notícias russa RIA Novosti que os combates começaram depois de um ataque das forças leais a Kiev contra um posto de controlo pró-russo à entrada de Slaviansk.

A responsabilidade pelo início dos combates desta segunda-feira diverge, mas a descrição de alguns pormenores é semelhante – ambos os lados dizem ter sido emboscados por grupos de homens sem uniforme, e um dos lados acusa o outro de usar armamento pesado.

"Sofremos baixas – morreram cerca de dez pessoas, incluindo civis, e entre 20 e 25 ficaram feridas. Não sei quantas baixas é que os nossos adversários sofreram, mas são claramente inferiores às nossas, porque eles têm armamento pesado. A maioria das nossas baixas é da responsabilidade de [tropas] vestidos à civil. Caímos na emboscada deles perto de uma estação de combustível", disse o líder separatista Igor Strelkov à agência RIA Novosti.

Na sequência dos combates, as milícias pró-russas derrubaram um helicóptero das forças ucranianas com tiros de artilharia pesada, avançou o Ministério da Defesa da Ucrânia. O aparelho – um Mi-24 de fabrico soviético – caiu num rio nas proximidades de Slaviansk, mas os seus ocupantes sobreviveram e foram resgatados.

Reforço da ofensiva em Slaviansk

No centro de Slaviansk – ainda dominado pelos separatistas pró-russos –, os sinos da igreja soaram e uma sirene alertou a população para a iminência de um ataque aéreo assim que as forças de Kiev deram mostras de quererem reforçar a operação para reconquistar o controlo da cidade.

A ofensiva das forças de Kiev contra os separatistas pró-russos em Slaviansk era esperada desde domingo, quando o exército ucraniano cortou a circulação na principal estrada de acesso à cidade.

De acordo com a agência russa Interfax, os combates desta segunda-feira levaram os cerca de 800 separatistas a retirarem-se cada vez mais para o centro de Slaviansk, depois de terem perdido o controlo de uma torre de televisão à entrada da cidade.

"A única opção é avançar aos poucos em direcção a Slaviansk", disse o ministro do Interior ucraniano – e o objectivo de confinar os combatentes pró-russos ao centro da cidade já foi alcançado, anunciou o chefe da Guarda Nacional da Ucrânia, Stepan Poltorak.

"Os nossos adversários estão bem treinados e bem equipados. Estão a fazer tudo o que podem para nos obrigar a usar armamento pesado, mas não vamos fazê-lo para pouparmos a população civil", disse o responsável, citado pela agência AFP.

Para a Rússia, não é isso que está a acontecer no terreno. Em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros apelou às autoridades de Kiev que "tenham noção do que estão a fazer, parem o derramamento de sangue, retirem as suas forças e que se sentem à mesa de negociações para iniciarem um diálogo sobre as formas de resolverem a crise política".

Depois da anexação da Crimeia pela Rússia e da ocupação de edifícios governamentais por separatistas pró-russos no Leste do país, o clima de guerra civil tem-se alastrado a outras regiões da Ucrânia.

O dia mais sangrento desde a deposição do Presidente Viktor Ianukovich foi a sexta-feira da semana passada, em Odessa, um cenário muito distante de Slaviansk, Donetsk e de muitas outras cidades onde a oposição ao Governo interno da Ucrânia é mais forte. Os confrontos desse dia entre separatistas e apoiantes das autoridades de Kiev fizeram pelo menos 46 mortos, a maioria pró-russos que morreram num incêndio no edifício onde tentaram refugiar-se.

Nesta segunda-feira, o Presidente interino da Ucrânia, Oleksandr Turchinov, alertou o país para a possibilidade de os confrontos chegaram à capital na próxima sexta-feira – dia em que se comemora o 69.º aniversário da derrota da Alemanha nazi na II Guerra Mundial.

"Está a ser travada uma guerra contra nós, e temos de estar preparados para repelir esta agressão", disse Turchinov numa declaração transmitida pela televisão. Para tentar manter Kiev a salvo dos separatistas pró-russos, o Presidente ucraniano anunciou nesta segunda-feira que as autoridades estão a erguer postos de controlo em todas as entradas da capital.

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