Começou em Trípoli julgamento de filhos de Khadafi

As milícias recusaram entregar Saif al-Islam, que assistirá às sessões por vídeo-conferência. Primeiro-ministro interino demitiu-se depois de ser alvo de um ataque.

Foto
Saif al-Islam tinha uma vida social e de negócios no Reino Unido Reuters

Apesar da polémica e do risco, iniciou-se nestase gunda-feira em Trípoli o julgamento de dois filhos do antigo líder da Líbia Muammar Khadafi e de várias dezenas de antigos responsáveis do regime. São todos acusados de crimes contra a humanidade, com os irmãos Saif al-Islam e Saadi Khadafi a responderem também por roubo de bens públicos.

A primeira sessão, no entanto, nem chegou a durar 40 minutos, antes de sofrer um adiamento para 27 de Abril, por causa da ausência de vários dos réus: em 37, só 23 se apresentaram, relata a AFP.

O julgamento realiza-se na prisão de segurança máxima Al Hadba, que foi rodeada de fortes medidas de segurança. À sua volta há tanques e outros veículos armados, barreiras de arame farpado e ninhos de metralhadoras.

Um dos arguidos, Saif al-Islam, vai ser julgado à distância. Provando o poder que as milícias formadas nos oito meses de guerra civil, em 2011, ainda têm — e que o Governo está longe de controlar o território (e o petróleo) —, os grupos que capturaram o filho mais velho de Muammar Khadafi recusaram entregá-lo às autoridades judiciais. Irá assistir ao julgamento através de vídeo-conferência.

Este julgamento tem sido contestado pelos grupos de defesa dos direitos humanos que argumentam que a Líbia não está em condições de realizar pequenos julgamentos, quanto mais um desta dimensão e com uma acusação tão complexa como crimes contra a humanidade. A Human Rights Watch tem denunciado as dificuldades com que a Justiça se depara em todo o país. "As milícias e os grupos criminosos intimidam, assediam, ameaçam e até assassinam juízes, advogados e testemunhas", disse ao jornal The Guardian Hanan Salah, da HRW.

A organização considera que não há condições para a realização de um julgamento justo, o que foi contrariado pelo Governo de Trípoli que insiste que será um processo transparente. "Posso assegurar-vos que o julgamento cumprirá os procedimentos legais", disse o porta-voz do Governo, Ahmed Lamin.

Só que, horas depois desta declaração do porta-voz, o primeiro-ministro interino demitiu-se. Abdallah Al-Theni recebera no dia 8 de Abril autorização do parlamento para formar um novo Executivo e anunciou este domingo, em comunicado, que se afasta por razões de segurança - no sábado, ele e a família foram vítimas de um "ataque falhado". Adiantou que continuará a assegurar a gestão do Governo interino até ser substituido.

Saif al-Islam e Saadi Khadafi são acusados de terem orquestrado uma campanha para assassinar, torturar e bombardear a população durante a guerra civil que acabou, depois da intervenção de uma força internacional (coordenada pela NATO), com o domínio dos Khadafi. Com eles, como arguidos, vão estar o antigo chefe dos serviços secretos, Abdullah al-Senussi, dois antigos primeiro-ministros e 34 membros da elite que governava o país.

A acusação diz que são todos responsáveis pelo massacre de civis nos primeiros dias da revolução que levou ao fim do regime de Khadafi — que foi apanhado e morto. E os dois irmãos são também acusados de roubo do erário público para financiarem o seu estilo de vida. Antes do derrube do regime líbio, Saif al-Islam tinha uma vida social e de negócios no Reino Unido, onde chegou a ser recebido por Tony Blair quando era primeiro-ministro e convidado para o Palácio de Buckingham. Apoiado no dinheiro do pai, Saadi tentou ter uma carreira no futebol italiano, mas fracassou. A acusação diz que, em 1996, foi o responsável pela morte de dezenas de pessoas na final da taça da Líbia ao dar ordem ao Exército para disparar.

Entre as provas está um vídeo, que Haia já considerou verdadeiro, em que se vê e ouve Abdullah al-Senussi a dizer aos seus homens para estarem "preparados para destruir [estes] grupos nojentos todos de uma vez".

 

Sugerir correcção
Comentar